28 Abril 2024, Domingo
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Um verdadeiro ultraje à dignidade humana

Como cidadão europeu e, especialmente, como cristão que sou há muitos anos e muito activo na pretensão de viver numa aproximação aos exemplos de Jesus, sinto-me verdadeiramente envergonhado, nessa minha condição de europeu e cristão, ao tomar conhecimento das cenas visualizadas nos canais da TV dos acontecimentos passados em Lampedusa, no sul da Itália.
Num só barco desembarcavam seis mil migrantes (homens, mulheres e crianças sem quaisquer familiares). Era mais um momento dum fluxo de fugitivos à procura dum lugar para viver com um mínimo de segurança.
A Itália estão chegando desde há anos uma multidão destes fugitivos embarcados, depois das suas longas fugas, por traficantes de humanos. Muitos outros barcos mais arrojados vão seguindo para as Canárias. É uma corrente que já dura há anos. Ao princípio atravessavam o Mediterrâneo para a Grécia em barcos de borracha, sempre superlotados, afundando-se com frequência a meio da viagem, transformando assim o mediterrâneo num imenso cemitério.
Há dez anos o Papa Francisco fez a sua primeira viagem à ilha de Lesbos onde se amontoavam milhares num verdadeiro campo de concentração sem condições mínimas para uma vida digna e por lá continuam milhares amontoados há anos. A Grécia deixou de lhes dar guarida e o fluxo passou para a Itália vindos da Turquia e da Líbia dividida e em lutas permanentes.
Mas esta fuga por falta de condições de vida em muitos países subsaarianos (a que se vêm juntando mais alguns do Oriente) tem razões que mais adiante poremos a claro. Se olharmos para outro continente, vemos, igualmente há vários anos, filas de habitantes de países da América do Sul e Central subindo aos milhares em direção aos Estados Unidos, para todos eles um El-dourado.
Mas a América do Norte ergueu muitos quilómetros dum altíssimo muro de barras de ferro e uma guarda super reforçada. A recusa é geral. A Inglaterra devolve para um país africano os muitos que se atrevem a atravessar o Canal da Mancha, onde por vezes também se morre afogado.
É bom que saibamos que esses países africanos são ricos em minerais raros, em pedras preciosas, em ouro, tudo necessário aos países ricos paras suas adaptadas tecnologias. Alem disso, nesses países africanos os governos não têm autoridade, muitos grupos de traficantes, a soldo das tecnologias dos países ricos, armados, repartem entre si essas explorações.
É evidente que não se pode exigir à Grécia e á Itália que fiquem com essa torrente de migrantes, doentes, famintos, procurando tecto e paz. Estamos perante um problema que é da responsabilidade da União Europeia (28 países) e dos EUA. Estamos perante um gravíssimo problema civilizacional, político e económico.
Bem pode a ONU enviar camiões de ajuda, bem pode Guterres clamar a surdez dos países a que chamamos ricos e que realmente lucram com esta indigna situação, fazer reuniões e dizer palavras lindas, que tudo isto é uma vergonha e até, muitas vezes, um crime!
Perante as imagens da ilha de Lampedusa, e a convite do governo italiano, foi a Presidente da União Europeia (pela primeira vez) visitar a ilha e estudar (?!) o problema e, entre as regras que (parece!) foram sugeridas, havia uma que será a devolução de certos desses migrantes ao seu país de origem. É proibido mexer nos riquinhos!
Será que ninguém pensa ou sugere uma boa campanha de desenvolvimento daqueles países investindo lá, fazendo tudo o possível para aí criar riqueza e condições de vida para que ninguém tenha de fugir e enfrentar a morte e os traficantes, para ter um tecto, paz e promessas de desenvolvimento?
Estamos perante um procedimento inamovível que é viver dominado pelo “ter” quando o que deverá orientar a política – uma forma de caridade (Papa Francisco) – deve ser o “ser”, ou seja, lutar pelo “bem comum”.
O que assistimos é a um “verdadeiro ultraje à dignidade humana”. Sinto-me envergonhado!

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