28 Abril 2024, Domingo
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A igreja de Jesus em Setúbal

Andam nas bocas do mundo imensos problemas sobre a Igreja em geral. Primeiro foi o tremendo escândalo dos abusos sexuais, que os órgãos de informação levaram tempo a largar. Depois foram, em progressivo crescendo, os problemas com a Jornada Mundial da Juventude – as despesas, a participação das autoridades civis e políticas num acontecimento religioso. Depois foi a notícia da vinda a Portugal do Papa Francisco. E, a pouco e pouco, foi-se tomando consciência da enorme dimensão desse acontecimento, falava-se que atrairia ao nosso País mais de um milhão de jovens dos quatro cantos do mundo, de praticamente todos os países! E assim aconteceu. Assistimos a um acontecimento religioso de dimensão mundial. Mas não de rezas, muitas orações ou procissões com andores e uma imensidão de cardeais, bispos e presbíteros.
Ora essa imensidão de” funcionários da Igreja” existiu realmente, mas o que predominou e deu o timbre a tal encontro foi a alegria da juventude e a personalidade plena de bondade e de energia do nosso Papa Francisco que em todas as reuniões em que participou deixou o gérmen da mudança, daquilo a que ele há muito chama a “revolução da ternura”.
Temos em breve um Sínodo intensamente preparado há uns três ou quatro anos e que vai ter a originalidade de nele participarem leigos dos dois sexos – vamos ter mulheres em pé de igualdade com os homens – facto inédito na Igreja!
Era impossível que todo este pensamento e atitudes do nosso Papa não chocassem com as milenares tradições da Igreja. E já há quem abertamente (cardeais, claro!) se prenuncie abertamente contra as ideias de Francisco, quem fale em perigo dum cisma! O problema do poder e da hierarquização poderosa da Igreja levantava críticas: em mil oitocentos e tal um eminente biblista foi excomungado por afirmar que “Jesus nos ensinou a viver e não nos deixou uma Igreja profundamente hierarquizada e cheia de regras e proibições“, que choca abertamente com o grito de Francisco aos jovens que proclama que “a nossa igreja é para todos, todos, todos!”
E aqui, por Setúbal, sem bispo há meses, com o nosso vigário soterrado em problemas e queixas, e sem apoio ou qualquer colaboração, e com sacerdotes que praticamente se insultam e usam linguagem imprópria, com as nossas Igrejas (edifícios) muitas vezes quase “às moscas”, com uma evidente fuga de crentes em Jesus que fogem daqueles ambientes bafientos e plenos de rotineirísmo.
Quando poderemos gritar que a Igreja (instituição) tem as portas abertas para todos, todos, todos, como proclamou Francisco? Quando deixaremos de ouvir dizer que a “missa é uma seca”? Quando sentiremos que o “povo de Deus” tem palavra na vida da nossa diocese? Quando se sentirá um entusiasmo e uma alegria ao discutirmos – e sentirmos – que a vida social do povo residente nesta diocese tem um apoio franco dos que se sentem cristãos e se preocupam com os pobres, os velhos, os doentes, os sem abrigo, qualquer que tenha necessidade de algo fundamental para viver e podem contar com o que chamamos de Igreja? Os “ventos de renovação” que sopram de Roma e que Francisco no encontro da juventude sempre foi confirmando, chegarão alguma vez à nossa diocese com tanta “barafunda” entre os nossos clérigos? Precisamos de muita força de “Espirito Santo”!
Não terminar sem deixar uma palavra amiga a O SETUBALENSE – o jornal mais antigo de Portugal continental – onde colaboro há muitas décadas. Devo ter escrito muitas centenas de artigos de opinião desde que o “Noticias de Setúbal”, jornal que dirigi, foi suspenso quando chegou a Setúbal o nosso primeiro bispo . E onde, hoje, quase cego e perto dos meus cem anos, faço questão de não deixar uma quarta-feira sem uma opinião minha – é já um imperativo para mim. Aqui deixo os meus parabéns aos actuais dirigentes e colaboradores d’O SETUBALENSE, de que Setúbal se deve orgulhar.

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