25 Abril 2024, Quinta-feira
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PENSAR SETÚBAL: A peça de teatro “Noite de Reis” de William Shakespeare

Num destes dias e na companhia privilegiada de um grupo de amigos, tivemos o enorme privilégio de assistir a uma peça de teatro intitulada “Noite de Reis”, de William Shakespeare.

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O teatro tem desempenhado, ao longo da nossa existência comum, um papel fundamental, constituindo um dos símbolos da evolução humana, no crescimento de uma sociedade.

Através da magia do teatro, o público é atraído e entra em palco pelo riso, choro, mas também pela reflexão, indignação, desenvolvendo o espírito crítico, motor da evolução das sociedades.

João Brites, director da companhia de Teatro “O Bando”, um dia, em amena cavaqueira, disse uma frase que retive:” O Teatro é uma das máximas expressões de Liberdade”.

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De facto, assim é. O actor pode contar uma história, ou exprimir conceitos, sentimentos e emoções, sem qualquer tipo de censura ou constrangimento, permitindo ao espectador “entrar em palco”, com as próprias ideias, pensamentos, reflexões. No fundo, uma tentativa de procura de si mesmo.

E é precisamente por esses motivos que as ditaduras diversas temem o teatro, procurando controlá-lo a acantoná-lo a um limbo conceptual e operativo que sirva os próprios interesses sempre ilícitos.

Fazem isso porque temem o seu caracter insidioso, reflexivo, intenso e, consequentemente, perigoso.

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O teatro entra pelo espírito do espectador, obrigando-o a sair do torpor existencial, sobressaltando-o e colocando-lhe o desafio ulterior; a capacidade de reflectir.

Regressando à peça “Noite de Reis”, é magnífica, onde a tradição, consubstanciada na indumentária, nas mesuras, na linguagem floreada, nos comportamentos, nas atitudes medievais, coexistem harmoniosamente com a modernidade, as motas em palco, as músicas (por exemplo, Eternal Flame das Bangles) que nos transportam para uma “ambivalência tragicómica”.

“Noite de Reis” retrata, como em muitas peças de Shakespeare, l’Amore. No reino de Ilíria, o duque Orsino está apaixonado por Olívia que não o ama. Uma jovem mulher, Violeta, chega a Ilíria levada pelo mar após um naufrágio.

A partir daqui, cria-se toda uma entropia amorosa, com encontros, desencontros, beijos apaixonados e intensos, disputas, duelos, equívocos, folias e partidas.

Somente homens em palco, um imperativo artístico da época. As mulheres seguir-se-iam a seu tempo, ocupando o seu espaço em palco, metáfora para o seu lugar na sociedade.

O público está preso a todo este enredo, rindo constantemente, entrando dentro da peça, rejubilando.

No final, um aplauso apoteótico e inteiramente merecido.

Como salientam muito bem os actores Renato Godinho e Filipe Vargas, a contemporaneidade de Shakespeare resiste ao passar do Tempo.

De salientar a presença dos prestigiados actores setubalenses Luís Aleluia e Manuel Marques.

Luís Aleluia interpreta uma personagem permanentemente etilizada, bem-disposta, num registo magnífico que somente actores com o seu talento, dimensão e experiência, podem materializar esta tipologia de personagens.

Manuel Marques, o meu antigo vizinho, filho dos meus queridos amigos do Coro Setúbal Voz, Isabel e Benedito Marques, está um actor soberbo. Assim que entra em palco, a risada está assegurada em permanência. A sua enorme qualidade como actor, a imensa expressividade e desenvoltura que evidencia, constituem enormes mais-valias para esta peça.

Recomendo vivamente “Noite de Reis”.

Teatro da Trindade. Lisboa.

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