26 Abril 2024, Sexta-feira
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União por uma vida justa, por uma vida boa

No passado dia 25 de fevereiro, os bairros saíram às ruas por uma Vida Justa. Saíram às ruas porque o retrato das periferias é de desespero com os preços que só sobem, salários que só encolhem e com a inexistência de políticas públicas que protejam as pessoas.
“Cinco da matina. Já todos caminham pr’o o mesmo enredo. Porque nos subúrbios o sol levanta sempre mais cedo. É um povo escravizado nesta sociedade de extremos. Trabalham duas vezes mais e ganham duas vezes menos.” Letras escritas pelo rapper Valete em 2006. E em 2023 a história mantém-se.
Um levantamento da Deco concluiu que o preço do cabaz alimentar aumentou 23,40% no último ano. A botija de gás está 6% acima do valor recomendado pela Entidade Reguladora. O preço das casas teve o maior aumento dos últimos 30 anos. Mas Fernando Medina celebra a redução da dívida pública para níveis pré-troika. Faltou lembrar que também o salário mínimo perdeu poder de compra pela primeira vez desde a troika.
Tudo isto enquanto os lucros da banca duplicaram para os 1,200 milhões. A Galp sobe para os 881 milhões. Pingo Doce e Continente com valores recordes. Muitos milhões. Poucos lucram, mas muitos pagam.
A população vê estes lucros abusivos e sabe que a riqueza existe, está é concentrada nas grandes elites. A população quer uma vida sem miséria porque a riqueza da sociedade tem de ser acabar com a pobreza.
O Bloco tem tido respostas bastante claras e que até agora o governo do Partido Socialista não tem acolhido. Propusemos controlar efetivamente o preço das rendas e fazer com uma parte da nova construção vá para custos controlados. Temos insistido na valorização das carreiras profissionais e dos salários que não estão a acompanhar a inflação. Por medidas de combate a essa inflação. Uma maioria do Partido Socialista recusa as propostas do Bloco sobre a leis laborais porque continua a recusar ver a crise que está neste momento a assolar o país.
Famílias do 2.º Torrão, da Cova da Moura, do Casal de São Brás, do Monte da Caparica e de tantos outros bairros marcaram o movimento que inverteu a lógica da representação social, que visibilizou e deu voz às franjas invisíveis da população. Invisíveis porque estas comunidades desfavorecidas são constantemente excluídas dos processos de decisão.
Invisíveis porque são a base que não parou durante a pandemia, desde as trabalhadoras da limpeza aos operários da construção civil. Invisíveis porque a política pública continuar a responder à pobreza com uma visão paternalista e situacionista.
Na manifestação num cartaz lia-se “há uma guerra contra os pobres”. A guerra dos preços. A guerra do ataque das autoridades que fecham os pequenos comércios dos bairros. A guerra dos desalojamentos violentos. A guerra do racismo e da xenofobia. A guerra da desconfiança.
O eco fez-se ouvir. Os invisíveis estão cansados. Da união nasce uma maioria social que exclama por reivindicações claras: melhores condições de vida, mais salário, mais habitação.
O dia 25 de fevereiro foi apenas um pontapé de saída para um movimento social que promete construir redes de solidariedade e fomentar o processo de consciencialização política das populações. Um movimento que continuará a fazer-se ouvir nas ruas, passando pela greve climática, pela luta dos estudantes e da visibilidade trans, pelo respeito aos professores, e pelo direito a uma casa para morar. É um sinal que o Governo tem de ouvir.
Vida Justa pelo cumprimento da dignidade. Vida boa porque não estamos condenados a aceitar o mínimo, a sobreviver de salário em salário. Estamos juntos, estamos fortes. Nu sta djuntu, nu sta forti.

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