3 Maio 2024, Sexta-feira
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Todos somos Salman Rushdie

“Pensei em ti todas as horas de todos os dias na semana passada. Amo-te como a um irmão e valorizo ​​a amizade que construímos juntos nos últimos 30 anos”       Paul Auster

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Os livros são objectos terríveis. O padre António Vieira dizia-nos que não tendo acção em si mesmo, movia os ânimos e criava grandes efeitos.

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Mário Vargas Llosa diz-nos que a boa literatura esbate o obscurantismo, promove a sensibilidade e a consciência, cria pontes entre pessoas diferentes, une barreiras da línguas, crenças, usos, costumes e preconceitos que nos separam.

Tudo isto vem a propósito do vergonhoso, bárbaro e indigno atentado que o escritor Salman Rushdie sofreu recentemente.

Sir Ahmed Salman Rushdie é um ensaísta e autor de ficção britânico de origem muçulmana indiana. Cresceu em Bombaim e estudou em Inglaterra, onde se formou no King’s College, Universidade de Cambridge

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Em 1988, Salman Rushdie publicou o livro “Os Versículos Satânicos”, cujo conteúdo polémico levou o então fundador da República Islâmica, Ayatollah Khomeini, a emitir uma “fatwa” (decreto religioso) em 1989, apelando ao seu assassínio.

Tal justificação segundo Khomeini devia-se pelo alegado crime de “blasfémia”, que custou ao escritor a possibilidade de uma vida normal e o afastou da família.

Na ocasião, o Irão ofereceu então uma recompensa de três milhões de dólares a qualquer pessoa que matasse Rushdie.

Como o passar do tempo, Salman Rushdie foi progressivamente perdendo o medo, uma vez que o Irão se tinha comprometido a não aplicar o decreto, depois de longas negociações com o Reino Unido.

Mesmo assim, viveu durante muitos anos escondido, mudando de identidade, supostamente como forma de o defender de um provável assassino.

O terror que Rushdie viveu de certa forma atingiu outros também. Editá-lo ou traduzi-lo passou a ser um acto de coragem. Por exemplo, o tradutor japonês do livro foi assassinado.

Nelson de Matos, responsável da editora D. Quixote, ao publicar Os Versículos Satânicos, foi ameaçado, tendo necessidade de protecção policial.

Rushdie já estava traduzido para português antes da polémica, mas de repente o livro que atraíra a fatwa teve uma explosão de vendas, um pouco por todo o mundo.

O livro conta-nos a história de duas personagens, Gibreel Farishta, célebre estrela de Bollywood, e o actor Saladin Chamcha, bantante diferentes entre si. O primeiro é uma figura controversa enquanto o segundo é um homem aparentemente impoluto.

Após em queda do avião onde seguiam e do qual ambos sobreviveram, Chamcha descobre que tem cornos na sua testa e progressivamente vai-se convertendo no Diabo.

Gibreel recebe visões do Arcanjo Gabriel e perde lentamente a sanidade, assombrado por eventos fantásticos da história islâmica

É precisamente nas visões fornecidas pelo espírito do Arcanjo que resultou na intensa reacção por parte da comunidade muçulmana mais conservadora.

 

O Irão é um dos regimes mais retrógrados que existem no mundo, com particular relevância para a forma vergonhosa e indigna como são encaradas as mulheres, sendo consideradas cidadãs de segunda categoria.

Para além de retrógrado e autocrático, é também um regime assassino.

Quando não existe estado laico e quando a religião domina a política, normalmente nada de bom advém daí.

Contudo, não há repúblicas islâmicas, nem religião, nem estados autocráticos, violentos ou assassinos que amordacem a liberdade de pensar autonomamente, de sentir, de concordar, discordar ou de contestar. Uma visão diferente é muitas vezes encarada como uma ameaça explícita ao poder instalado e nunca como massa crítica dos quais os regimes se devem servir para procuramos fazer um mundo mais justo e melhor.

Se existe algo que a História da Humanidade nos ensinou é que o espírito humano não se pode acantonar, nem condicionar, nem amordaçar. Mais tarde ou mais cedo, irrompe, quebra barreiras e inunda, por vezes desenfreadamente, os nossos espaços físicos, políticos, afectivos e emocionais.

Fica aqui uma homenagem muito sentida e emocionada a Sir Salman Rushdie, exultando com a sua recuperação.

A melhor homenagem que lhe podemos fazer é ir a uma qualquer livraria comprar um livro de sua autoria.

Thank You, Mr. Rushdie For Your Courage.

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