20 Abril 2024, Sábado
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O exemplo do Papa

Segundo o relatório “A Desigualdade Mata”, da organização internacional Oxfam, publicado a 1.1.22, os dez mais ricos do mundo, durante os dois primeiros anos da pandemia, duplicaram as suas fortunas. Passando de 700 mil milhões de dólares para 1,5 biliões. À razão de 1,3 mil milhões por dia. Enquanto isso, o rendimento de 99% da humanidade caía, e mais 160 milhões de pessoas eram empurradas para a situação de pobreza.

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A fortuna destes dez bilionários, é seis vezes superior à de 3,1 mil milhões. As pessoas mais pobres do mundo.

Ainda segundo o mesmo relatório, os fatores que mais pesam na causa de morte de 21 mil pessoas por dia, estão a falta de acesso a cuidados de saúde e a fome.

Também em Portugal as grandes fortunas tiveram neste período grandes aumentos. Em 2020, os grupos económicos distribuíram mais de 7 mil milhões de euros em dividendos aos seus acionistas e, em 2021, o património das famílias mais ricas cresceu 3,5 mil milhões de euros, só em ganhos bolsistas.

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É esta economia que o Papa Francisco classifica como “a economia que mata”. Ele tem surpreendido muita gente e desagradado aos que beneficiam dessa economia e também da guerra. Um verdadeiro cristão que, com outras honrosas exceções, destoa do tradicional posicionamento da Igreja desde a conversão do imperador Teodósio I, que passou a designar-se Igreja Católica Apostólica e Romana, colocando-se ao lado dos poderosos.

Esse desagrado voltou a verificar-se com afirmações que fez à revista jesuíta italiana “a Civiltà Cattolica”, sobre a guerra da Ucrânia.

Diz Francisco: “temos de nos afastar do padrão de histórias como a do Capuchinho Vermelho, onde o Capuchinho Vermelho era bom e o lobo era mau”.

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Lembrando outras guerras esquecidas, fala na “NATO a latir às portas da Rússia”, e que “a guerra Rússia-Ucrânia talvez tenha sido provocada ou não impedida por interesses de terceiros”.

Compreende-se “talvez”, a contenção, de um homem com as suas responsabilidades. Mas, acrescenta: “na Ucrânia, estamos numa situação de guerra mundial com interesses globais, venda de armas e apropriação geopolítica pelo meio.”

Como já nos habituou, diz aquilo que os políticos social-democratas com responsabilidades, deviam dizer. Mas não dizem. E esse, é um dos grandes males do nosso tempo. A sua subordinação ao capitalismo e, neste caso, também ao imperialismo norte-americano.

Dizer ainda que o avanço da NATO, o não cumprimento dos acordos de Minsk, o assumido objetivo de desgaste máximo da Rússia, portanto, o prosseguimento da guerra com o boicote à importação de cereais e fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia e, sobretudo, de gás e petróleo, além de graves problemas para a Europa e não só, com o recurso já anunciado por alguns países, como a Alemanha, França e Holanda, ao carvão e ao nuclear, agrava-se o já de si gravíssimo problema ambiental.

Para contrariar o desejo de hegemonia global dos EUA, vozes como a do papa são importantes para se alcançar o que é imperioso: a Paz.

Francisco Ramalho
Professor, Corroios
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