19 Abril 2024, Sexta-feira
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Os jovens e a política

O alheamento dos jovens da política não é um fenómeno recente. Estima-se que cerca de 60% dos jovens entre os 15 e 24 anos não manifestam interesse por temas políticos. Simultaneamente, assistimos à proliferação de movimentos populistas e extremistas, cujo crescimento se baseia num sentimento geral de desilusão com o sistema democrático representativo.

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A sua propaganda agrega-se numa estratégia de marketing baseada na criação de desinformação, mediante canais informais e redes digitais, veiculando uma retórica característica, usualmente designada por fake news.

Perante esta realidade, os media são confrontados com desafios e constrangimentos que deverão ser encarados com rigor pelos agentes públicos. É premente estruturar um projecto cívico centrado na literacia política, que capacite o cidadão para aceder a informação credível e promover o seu sentido crítico.

A escola e a família poderão ser instituições relevantes neste desiderato. Relativamente à escola, é de realçar o escasso tempo dedicado a este tema. É momento de se encarar, sem preconceito, o papel estruturante que a comunidade escolar pode ter na capacitação para a literacia política: seja através da melhoria do Projecto Educativo, seja na promoção de projectos paralelos adaptados.

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A confiança do cidadão nos políticos passa, igualmente, pela identificação e interacção directa com os mesmos. As camadas jovens são frequentemente colocadas de parte, por não constituírem um bloco eleitoral prioritário.

Neste contexto, os eleitos locais devem surgir como facilitadores para a resolução deste problema. Primeiramente, a sua proximidade facilita o contacto e abre a porta para uma ligação mais efectiva com as populações.

As Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia poderão ser um agente para a recuperação da confiança na classe política. Somos seres sociais, crescemos e desenvolvemo-nos em interacção com o próximo em praticamente todas as áreas da nossa vida, sendo a identificação com os pares um aspecto essencial do desenvolvimento social.

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As marcas há muito já entenderam isto, utilizando cada vez mais as redes sociais e os influencers para obter um match perfeito entre modelos e expectativas do público-alvo. Se queremos uma maior participação jovem na política, a acção concreta passará, no imediato, por utilizar esse método – o papel identificador dos pares.

É essencial que os partidos recuperem o papel social dos rostos jovens na política. Do mesmo modo, projectos como o Orçamento Participativo Jovem, Conselho Municipal da Juventude ou a Semana Municipal do Voluntariado, ferramentas disseminadas por todo o país com impacto geral positivo, contribuem para a promoção efectiva dos jovens na comunidade, no movimento associativo e nas juventudes políticas.

Longe dos tempos românticos das lutas estudantis do pré e pós 25 de Abril, a presença da juventude na política é hoje conotada com um peso social negativo, associado a disputas internas de poder, compadrios, “jobs for the boys” e outro tipo de representações sociais que tem, por um lado, afastado os jovens e, por outro, impedindo-os de ter um papel de maior destaque em posições de liderança política e cívica.

É fundamental que a nova geração de actores políticos desenvolva estratégias conjuntas e suprapartidárias, de dignificação e exaltação do seu papel enquanto construtores da democracia, encontrando meios que contribuam para maior literacia dos seus pares, maior identificação e, como consequência, maior participação nas decisões políticas.

Miguel Fernandes
Vereador na Câmara Municipal de Sesimbra
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