27 Abril 2024, Sábado
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Crise

Acreditamos mesmo no hipócrita “vai ficar tudo bem”? Obviamente que os mais baixos interesses humanos, incluindo os políticos e ideológicos, acreditam. Os outros andam confusos. “Está (quase) tudo mal” e a minoria privilegiada que tem recursos, abrigo e segurança, finge não saber.

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A palavra crise deriva do grego,  krisis e krino, e significa separar, decidir, estabelecer uma distinção, ponto de viragem.  Crise apela claramente a um momento de verdade. Estamos, necessariamente, num ponto de viragem, em que a verdade tem de prevalecer. Sabemos que a verdade é relativa, o olhar de cada um é determinante. A mentira, essa, não nos deixa dúvidas, é absoluta. Pior, a mentira domina e passou a ser estratégica. Vivemos uma profunda crise de valores, de moral e de verdade. Acreditamos que é possível viajar para Londres por 30 € e comer morangos todo o ano. Tudo é possível e está, normalmente, à distância de um click.

Este ponto de viragem, que a crise nos obriga, não é a “transição” com que nos embalam, a mudança necessária é de tal forma enorme que exige rotura, não há qualquer tipo de transição que nos possa valer. Não há soluções claras e evidentes. Problemas complexos não têm soluções simples e únicas.

O “desenvolvimento sustentável”, com a enorme dinâmica que o sustenta é, provavelmente, a maior das mentiras. Os factos mostram-no; quanto mais se evolui neste caminho, do “desenvolvimento sustentável”, mais afastados estamos dos ciclos naturais da Terra. Como consequência, mais violentamente a Terra responde: alterações climáticas, catástrofes naturais, perda dramática de biodiversidade, desertificação, pobreza, fome… Como se isto não bastasse, para a coisa parecer credível e séria existem uma infinita panóplia de selos, certificações, bandeiras, galardões, etc.  que atestam e garantem o mérito sustentável, ecológico e verde de tudo o que se queira, com isto nos enganam. A sustentabilidade é um monstruoso mercado que nos contenta e descansa as consciências. Uma perfeita “estratégia de mentira”, incluindo as organizações de defesa do ambiente, que tanto necessitam do sistema para justificar a sua inconsequente existência, a mais das vezes sumptuosa.

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Tudo se pode resumir a uma enorme encruzilhada civilizacional em que o nosso modo de vida tem afastado a humanidade da Terra. Um modo de vida insustentável é o resumo do Antropocénico. Tanto assim é que no passado dia 29 de julho atingimos o Earth Overshoot Day (dia da sobrecarga da Terra). Desde esse dia, até final do ano, durante cinco longos meses, vamos viver com o que não temos. Isto é possível durante mais quantos anos? Se atendermos que o primeiro semestre de 2021 foi, comparativamente, um tempo de pouca atividade económica, basta pensar no turismo, este facto é assustador. Portugal ainda tem um desempenho significativamente pior que o global do planeta. Quem diria? Este ano na primeira quinzena de maio esgotámos o que temos direito, vivemos 7 meses com os recursos e energia que pertence a outros.

Como mudar este estado de coisas, de forma que a Terra nos proporcione os recursos necessários e absorva os resíduos que geramos? Até aqui a maior parte das soluções implementadas, muitas vezes, têm resultados perversos porque assentam nos mesmos princípios. Desde logo, a primeira e mais significativa mudança, tem de ser a VERDADE. Tapar o sol com uma peneira só agrava o problema, como temos assistido, sem a verdade é impossível mudar o que seja. É incontornável e imperioso considerar e respeitar os ciclos da Terra. A ciência e a tecnologia é-nos apresentada como a receita para a vida, tal como a conhecemos, na Terra. Mas a ciência e tecnologia têm limites e, acresce, que nos falta tempo. É obrigatório distinguir o essencial do supérfluo e, sobretudo, sincronizar a ciência e consciência.

Ninguém pode ficar de fora, todos somos poucos.

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Paz e Bem para todos os leitores.

Carlos Cupeto
Universidade de Évora
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