“Os ilustrados despertam-nos e animam-nos. Aconselham-nos a perceção da lucidez. Limpam o restolho visual que fica depois na ornamentação sem regras. É preciso fazer um desenho antes e depois das investidas que alinham com a arrogância e a falsa necessidade e conforto visual sem atitude. Precisamos da atitude dos ilustradores. Dos ilustradores que nos despertam para a vida. Esta Festa começou por existir em homenagem aos ilustradores do Charlie Hebdo assassinados no seu posto de trabalho. Não é a morte que se assinala. É a vida dessa gente corajosa que viveu sem medo. Gente que viveu em voz alta e de lápis bem afiado. O desenho é uma arma contra a arrogância e a estupidez. O desenho conta histórias. Estimula a vida. O desenho é vida.”
José Teófilo Duarte
Este ano decorreu mais uma edição da Festa da Ilustração, que já vai na sua sétima edição e que irá decorrer até final de Novembro.
Este evento, organizado pela Câmara Municipal de Setúbal com várias parcerias, tem como curadores o amigo José Teófilo Duarte, também ele um prestigiado artista plástico setubalense, para além do designer Jorge Silva.
Irão ser apresentadas doze exposições distribuídas por vários espaços da nossa cidade.
Guardei toda a tarde de duas sextas-feiras, para efectuar com calma o meu “percurso gráfico” desde a Casa da Cultura, Casa da Avenida, Quartel do “11”, Gráfica, Culsete, Casa do Largo, Casa Bocage, Ateliê Zé da Nova e Museu Michel Giacometti.
Apreciei as obras de Marta Madureira, de Pierre Pratt, João Carlos Celestino Gomes, José Brandão, André Ruivo, António Jorge Gonçalves, Vasco, Yara Kono, Maria Remédio, Tiago Manuel, André Carrilho, Nicolau e Zé Nova, e uma mostra colectiva de alunos de escolas superiores de artes.
A Festa da Ilustração inclui também Exposições, Oficinas de desenho, concertos e cinema de animação.
As imagens foram sempre um veículo preferencial para transmitir mensagens, e também usadas para contar uma história. Não é por acaso que uma imagem vale mais do que mil palavras.
O olhar de um ilustrador é um olhar atento, crítico, tornando-se uma forma de fazer pensar e reflectir, com mensagens de liberdade, sentido estético e bom gosto.
Por trás de cada uma das ilustrações, está subjacente uma ideia, um conceito, uma coerência, um raciocínio.
Tem, quanto a mim, sobretudo um objectivo, apresentado explícita ou implicitamente: dizer algo a quem está a observar, comunicando ideias e emoções.
O poder da ilustração é, como vimos, a capacidade de contar qualquer coisa; por vezes um pequeno detalhe inserido numa gravura ou pintura, pode e faz toda a diferença.
Uma imagem pode atingir-nos de tal forma que nos levam a reflectir e esta pode ser muitas vezes a mola impulsionadora para o pensamento crítico.
Fui de propósito ao Museu Nacional Rainha Sofia apreciar a famosa pintura de Pablo Picasso, intitulada “Guernica”.
Estive bastante tempo parado a olhar atentamente para a obra. Não se fica indiferente à força da violência genialmente plasmada na tela.
Uma das imagens mais intensas do quadro representa uma mãe que segura nos seus braços, o filho morto. A sua face contorcida, transparece dor, com um grito dirigido ao alto, uma vez que os assassinos vieram do céu; os aviões alemães da legião Condor.
Quanto à Festa da Ilustração, ao longo destes sete anos, tem vindo a assumir-se indiscutivelmente como um importante evento cultural setubalense.
Fica aqui uma palavra de muito apreço à Câmara Municipal de Setúbal, ao José Teófilo Duarte e Jorge Silva pela excelência destas iniciativas.
