19 Março 2024, Terça-feira
- PUB -
InícioOpiniãoAssim não vamos lá

Assim não vamos lá

De tempos a tempos, em intervalos cada vez mais curtos, o planeta faz questão de nos lembrar de que estamos à beira do caos climático. Esses alertas nunca vêm em modo suave – desta vez mataram 168 pessoas, vítimas de inundações sem precedentes na Bélgica e na Alemanha; no Canadá, as temperaturas atingiram 50 graus e provocaram uma onda de incêndios e até de mortes súbitas nas regiões mais quentes – porque é que tão difícil escutá-los?

- PUB -

Será a humanidade capaz de se emancipar da sua própria destruição? A geração da greve climática lançou uma pergunta que permanece sem resposta mas que engrossou o campo do progresso. A contradição entre capital e natureza é mais profunda do que o alívio moral de que goza a classe alta ao volante do seu Tesla.

O desafio é pensar numa estratégia que não passe pela criação de novos mercados onde se transacionam valores ambientais – como emissões de carbono ou até água -, ou que não nos diga que a culpa da seca é nossa – e só nossa – porque não lavamos os dentes com escova de bambu. A imaginação do capitalismo verde será inesgotável mas não garante resposta para combater as alterações climáticas e não desistirá de tentar passar para os debaixo, o custo da transição energética e industrial – paga em desemprego e aumento do custo de vida.

Não há caminho se não se mobilizarem os recursos públicos e as transformações do sistema económico para essa evidência. Um dos exemplos mais claros é o da mobilidade. Pensemos no caso da margem sul, que todos os dias exporta centenas de milhar de carros para a margem norte para fornecer mão de obra à capital. Ou na dificuldade, para não dizer absoluta impossibilidade, de percorrer o distrito de comboio. 

- PUB -

Ao longo dos anos, o distrito de Setúbal tem vindo a sofrer sucessivas supressões do serviço de transporte ferroviário, deixando uma série de localidades a sul do distrito de Setúbal e no litoral alentejano sem qualquer alternativa de mobilidade.

Em 2011, foi suprimido o serviço regional na ligação entre Setúbal e Tunes e alterado o percurso e locais de paragem do serviço Intercidades Lisboa-Faro. Estas decisões, tomadas à margem dos interesses das populações, são o espelho do desrespeito pela preservação e valorização da ferrovia como elemento essencial para o desenvolvimento económico e social do país. Para além de ser uma alternativa ao paradigma presente do uso do transporte individual, contribuindo para a redução de custos para as populações e das emissões de carbono, a aposta no transporte coletivo continua a ser condição fundamental para propiciar uma maior mobilidade, coesão territorial e desenvolvimento económico.

Também a decisão de supressão das paragens do serviço Intercidades em Setúbal e Alcácer do Sal tem como consequências evidentes o aumento do tempo total das deslocações, o incremento do seu custo para os utentes, a que acresce a transferência de uma parte dos passageiros para as empresas de transporte rodoviário privadas, bem como para o transporte individual. Não é assim que vamos lá.

- PUB -

O investimento na ferrovia é um dos desígnios mais importantes para o país, seja pelos ganhos ambientais claros, seja pelas vantagens para a saúde pública e qualidade de vida das populações. Por isso, é urgente reforçar o investimento na ferrovia em todo o país, dando prioridade aos locais que mais dificuldades apresentam atualmente, por forma a responder efetivamente aos problemas de coesão territorial e desertificação do interior.

- PUB -

Mais populares

Ajuste de contas entre jovens em escola de Setúbal com ameaça de arma branca

Rapidez de resposta de funcionário impediu ‘males maiores’. Polícia deteve suspeito, que depressa foi solto e regressou à escola

João Afonso: “Os cidadãos do distrito olham para o PSD como uma espécie de primo direito do PS”

O social-democrata considera que o partido sofreu o maior golpe político da sua história na região. E lança duras críticas à distrital

Um nome incontornável da nova música portuguesa

‘A Garota Não’ foi a escolha do público para Figura do Ano na categoria de Cultura
- PUB -