23 Abril 2024, Terça-feira
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Racismo, xenofobia, discriminação – parte 2

Há quem defenda que a xenofobia e o racismo são uma praga em Portugal. E citam um estudo europeu de 2018/19. Não sou estatístico, mas permitam-me duvidar da fiabilidade do estudo. Os 1.055 inquiridos (0,0001%) representarão o total dos portugueses? Não creio. E as três questões fechadas, de resposta imediata, seriam as mais apropriadas para a obtenção de resultados credíveis? Não me parece.

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Trabalhei em cinco empresas industriais, vinte e tal anos, e nunca me apercebi de discriminações de natureza étnica ou relativa a nacionalidades. Nas escolas que me foi dado conhecer – oito, secundárias e dos segundo e terceiro ciclos, durante um quarto de século –, jamais descortinei uma pequena sombra de segregação associada a nacionalidades ou etnias, contra a qual eu, se a constatasse, e porque sou de me bater pelas minhas convicções, me teria insurgido. O que vi, sempre, foi uma grande vontade, carinho e todos os esforços possíveis para integrar e ajudar os alunos nas suas dificuldades. Eu próprio dei aulas de Apoio Pedagógico Acrescido a Língua Portuguesa e lecionei aulas de Português Língua Não Materna, não me poupando a esforços e a afetos na ajuda aos meus alunos estrangeiros e aos portugueses oriundos dos grupos étnicos minoritários ou pertencentes à maioria.

A sanha dos que veem em cada português um potencial xenófobo e racista é coisa fabulosa. Insisto: a xenofobia e o racismo não têm nacionalidade, cor, etnia; manifestam-se onde há pessoas, é defeito, é tara da humanidade. Mas os estudos sobre o tema, tendenciosos, apontam sempre na direção das populações ditas brancas. Não cabe no meu entendimento. Como não cabe que 62% dos portugueses (brancos, torno à facciosidade do estudo) sejam racistas. Não somos uma nação degenerada, um povo de biltres – não há disso em parte alguma. Nem somos os EUA.

A ausência de razoabilidade e seriedade na defesa das ideias é fanatismo. Há por aí fanáticos a debitar aleivosias e discursos odientos. E uma certa intelectualidade propensa a vinganças sem sentido e posta em brios no partidarismo político, apostada na caça ao voto em determinados setores de eleitorado, a qualquer preço.

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O colonialismo escravizou, rapinou, explorou, feriu de morte a liberdade e a dignidade dos colonizados. Há histórias de abusos, crimes, mágoas e revolta transmitidas de geração em geração, responsáveis pela legítima animosidade contra as maldades do colonizador; os preconceitos e discriminações sofridos na atualidade são outra fonte de justa revolta. Somos todos humanos (iguais nas nossas diferenças), sensíveis ao mal que nos fazem, necessitados de compreensão e de respeito pela nossa dignidade, da empatia e da compaixão do outro, de amor. A sociedade portuguesa está marcada pelo problema da exclusão, por desequilíbrios diversos e tantas desigualdades e injustiças que urje reparar. Por isso, acho muito bem a atribuição dos milhões para a campanha nacional de prevenção e combate ao racismo. Como considero imprescindível e urgente o apoio aos idosos que sobrevivem de pensões de miséria, aos desempregados, às famílias mais carenciadas, aos empresários honestos que passam por reais aflições, aos quase dois milhões de portugueses que sofrem necessidades que nos contristam e envergonham.

A vida dá muito trabalho. A situação de quem não nasceu em berço d´ouro, seja lá quem for, melhorará na medida da sua luta e do seu esforço por melhores condições. O nível de vida melhora-se com trabalho honesto, estudo e formação, cumprindo regras, contribuindo – porque há os direitos, mas também há os deveres. Os poderes públicos têm a obrigação de combater desigualdades, preconceitos, discriminações, por todos os meios possíveis. E de criar as condições necessárias à inclusão dos que pertencem a minorias. Neste particular, o lema é simples: às minorias, os mesmos direitos e as mesmas obrigações. E não há maneira de a inclusão se efetivar e de se ultrapassar as dificuldades, sem a vontade, o empenho e a fraternidade de todos.

A intolerância gera intolerância. O ódio cria ódio. Certas narrativas antixenófobas e antirracistas abordam só o lado da problemática que convém aos narradores – não prestam um bom serviço à causa que dizem abraçar. Lamentavelmente, há outras narrativas e atitudes de cariz xenófobo, racista, discriminador, que é preciso erradicar. A perrice a que se apegam uns e outros é multiplicadora de intolerâncias e de ódios que não beneficiam ninguém. Tenham juízo.

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