19 Março 2024, Terça-feira
- PUB -
InícioOpiniãoQuais pessoas? Os donos das multinacionais?!

Quais pessoas? Os donos das multinacionais?!

Já dizia a poeta, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. As inacreditáveis declarações de dirigentes, ministros, deputados, do PS e do PSD sobre o aeroporto na Base Aérea n.º 6 no Montijo são cada vez mais uma demonstração de subserviência para com os grupos económicos e de desprezo para com as populações.

- PUB -

Durante anos, o PS defendeu abertamente a privatização da ANA Aeroportos. Foi aliás uma das muitas e fortes razões, se bem se lembram, que levaram o PCP a rejeitar o “PEC 4” há uma década. Quando a direita chegou ao poder para dar as mãos à troika e arrasar o mais que pudesse com os direitos das pessoas e o património do país, lá foi a ANA Aeroportos para a multinacional francesa Vinci. E o PS, que andou a defender e a propor a privatização, logo disse que não era bem esse o plano.

Tem sido revoltante assistir, anos a fio, à arrogância dos representantes daquela multinacional, que perante órgãos de soberania deste país vinham ditar a sua lei e impor as suas opções. Já foi dito, mas tem de se reafirmar: o processo de estudo, análise e decisão que conduziu à opção do Novo Aeroporto no atual Campo de Tiro de Alcochete foi um processo sem paralelo nem comparação. Avaliação Ambiental Estratégica, Avaliação e Declaração de Impacto Ambiental, um processo técnico irrepreensível conduzido pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Pareceres favoráveis de todos os municípios envolvidos, resoluções do Conselho de Ministros a aprovar a decisão. Veio a Vinci e comeu-a.

Em julho de 2013, poucos meses depois da privatização da ANA, o então Secretário de Estado Sérgio Monteiro foi visitar as obras de expansão do Aeroporto da Portela, e proclamou solenemente: “o novo aeroporto é aqui!”. O assalto estava em curso: o que contava não era o interesse nacional e o desenvolvimento – era o negócio da multinacional. Espremer as receitas de milhões em taxas aeroportuárias, em negócios de retalho e de imobiliário, em estacionamento, tudo num aeroporto localizado no Centro de Lisboa!

- PUB -

Claro que um Novo Aeroporto de Lisboa, abrindo caminho ao encerramento futuro da Portela, era o pior que podia acontecer a quem tivesse essa estratégia. Era preciso inviabilizar o projeto a todo o custo. Foi por isso, e para isso, que regressou rapidamente e em força a aberração do “Portela + 1”. Tratava-se (e trata-se) de prolongar e intensificar a operação na Portela aos limites do imaginável – as pessoas que vivem e trabalham em Lisboa são irrelevantes para essas contas, claro – e encontrar um “complemento” baratinho e perto de Lisboa. Eis a Base Aérea do Montijo.

Uma das mais importantes bases da Força Aérea Portuguesa, numa localização verdadeiramente estratégica para missões fundamentais, a Base Aérea n.º 6 é, na prática, privatizada, desalojadas as suas unidades de forma vergonhosa, e entregue de bandeja aos interesses económicos estrangeiros. Tal foi a decisão da Vinci, diligentemente executada por governantes PSD/CDS, diligentemente defendida por governantes PS.

Já durante a governação PS/António Costa, a 26-09-2018, o então Presidente da ANA Aeroportos, um empregado da Vinci que vinha para Portugal dar ordens, o Sr. Ligonnière, compareceu na Assembleia da República. Quando confrontado pelo PCP na Comissão Parlamentar com a inexistência de uma avaliação ambiental estratégica para aquela “solução” que estavam a impor, sabem qual foi a resposta? “A Avaliação Ambiental Estratégica não se vai realizar porque implica avaliação de alternativas, com outras soluções. A opinião do Estado Concedente, que é também a nossa opinião, é que as outras soluções não são solução. Não encaixam no modelo económico que foi negociado”. E pronto.

- PUB -

Convenhamos: perante explicações destas, fica quase tudo dito sobre o processo de decisão. Sobre as decisões que têm sido tomadas – mas também sobre as que podem vir aí…

Esta semana, o Ministro Pedro Nuno Santos respondendo ao PCP na Assembleia da República, apontou um dos grandes problemas da localização Campo de Tiro de Alcochete: nada mais, nada menos que a necessidade de construção de uma Terceira Travessia do Tejo.

Foi exatamente o argumento do anterior ministro, Pedro Marques em 2019. Sem tirar nem pôr. Para eles, a Terceira Travessia é um problema. Para nós, é uma solução. É um dos projetos estruturantes para o desenvolvimento e a qualificação territorial, não só da Península de Setúbal mas da Área Metropolitana de Lisboa, indutor de investimento público e privado, reclamado pelas populações e prometido pelo PS quando há campanhas eleitorais. Afinal, umas vezes é promessa, outras vezes é ameaça.

A política deve ser feita com dignidade e com elevação, em defesa do interesse do país e da região, e por uma vida melhor para as pessoas. Por isso, por uma questão de higiene, não se comentará aqui as baixarias que têm sido veiculadas no desespero de alguns porta-vozes do bloco central. Mas sempre se deve registar que, quando se vê o PSD a dar a mão ao PS desta forma tão despudorada, destratando órgãos e eleitos do poder local democrático, desprezando as populações para alterar a lei, à medida e às ordens das multinacionais, bem se percebe o que querem dizer, quando falam em “servir as pessoas”. Sabemos bem que pessoas são essas.

- PUB -

Mais populares

Ajuste de contas entre jovens em escola de Setúbal com ameaça de arma branca

Rapidez de resposta de funcionário impediu ‘males maiores’. Polícia deteve suspeito, que depressa foi solto e regressou à escola

João Afonso: “Os cidadãos do distrito olham para o PSD como uma espécie de primo direito do PS”

O social-democrata considera que o partido sofreu o maior golpe político da sua história na região. E lança duras críticas à distrital

Um nome incontornável da nova música portuguesa

‘A Garota Não’ foi a escolha do público para Figura do Ano na categoria de Cultura
- PUB -