29 Março 2024, Sexta-feira
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Vinho para a alma

Os tempos estranhos tempos pandémicos em que vivemos, são a meu ver o resultado da separação entre o corpo e o espírito. Segundo o filósofo Deleuze “os modos de vida inspiram as maneiras de pensar e os modos de pensar criam maneiras de viver”. O contexto prova que nos deixamos enredar na própria teia. Vítimas do chamado “mito do progresso” o ser humano passou a ser instrumentalizado como parte de uma cadeia de produção ilimitada, sob a necessidade de produzir cada vez mais como sinónimo de progresso trazido pela globalização. Mediante a necessidade de produzir mais e mais, fomos sendo consumidos pelo tempo, devorado pelo Cronos. O continuum homogéneo do tempo que a teoria do progresso desenhou causou esta ruptura.

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No entanto, como não há mal que não traga sempre algum bem, como terá dito o grande génio da música (Beethoven); devemos encarar este momento conturbado, como oportunidade de regresso a nós próprios, pois há muito tempo que nos perdemos nesta “ selva entrelaçada e obscura onde as coisas deixam de ser claras”( Dante).

O caminho que proponho, é a via que permite a ligação do espírito à vida dos sentidos. E neste sentido, para concretizar esta aliança íntima e indissociável entre o homem e a terra, entre o mundano e o filosófico, entre o mundo físico e espiritual, nada melhor do que sorver umas gotas do tal néctar sagrado- o vinho. O vinho permite a reconciliação com o próprio ser. Num sentido mais profundo, é uma oportunidade de irmos ao nosso encontro, de ir em busca do verdadeiro sentido da nossa existência, do nosso papel no mundo. Através do sangre de Cristo, mergulharmos na nossa verdadeira essência.

Durante séculos o vinho foi encarado como alimento do corpo e da alma, sem visões transcendentais. O vinho era o companheiro da mesa por excelência, que trazia alegria às refeições, trazendo algum aporte de arte para o quotidiano.

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Agora que nos aproximamos do advento natalício, afigura-se uma excelente oportunidade para reflectirmos até ao Natal, para mudarmos o nosso caminho e trajectória do Ano Novo até ao Natal do próximo ano. Numa época em que estamos impedidos do convívio social, eis uma excelente oportunidade de num acto solitário, puro nos conectarmos com o espirito, que nos conduz não ao sonho, mas a um lado real da vida, como nos diz Carl Jung: “ Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta”.

Precisamos meditar. As uvas não se transformam em vinho se não forem pisadas por nós. A meditação e o esforço mental cuidadoso servem como exercício e fortalecimento da alma, que fica disponível para receber verdades ainda mais sublimes. E nada, como o precioso líquido para nos ajudar neste desafio, o chamado vinho de meditação: o vinho para se embriagar com o sagrado, alma aberta para reflectir a luz adiante, e silêncio para que possamos escutar os ecos da eternidade.

O desafio que lanço aos leitores é encontrar um vinho que conduza à reflexão no ontem e no hoje para enfrentar os caminhos do futuro, e crer no Deus que nos existe. Talvez, ele esteja escondido num lugar dentro de nossa casa, aguardando ansiosamente, para que seja descoberto, liberto, vivido e sentido.

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