29 Novembro 2023, Quarta-feira
- PUB -
InícioOpiniãoResponsabilidade regional

Responsabilidade regional

A responsabilidade regional não é uma mera dimensão da responsabilidade social, requer engajamento com o desenvolvimento da região. Este modelo de gestão, que desejamos para as empresas e organismos de base local e regional, pode estar prestes a emergir

- PUB -

Na passagem dos 19 anos de vida do projecto editorial que está na génese do DIÁRIO DA REGIÃO quero partilhar com os leitores o pensamento que subjaz à nossa existência, que constitui a nossa Visão, e que se traduz num princípio estruturante da nossa conduta; responsabilidade regional.
A responsabilidade regional, conceito que definimos muito genericamente como o compromisso com a condição e o desenvolvimento de uma determinada unidade territorial, não se confunde (e muito menos se esgota) com qualquer outra responsabilidade das que constituem já hoje preocupações das pessoas e entidades colectivas (nomeadamente responsabilidade social e responsabilidade ambiental).
A responsabilidade regional não é, por exemplo, uma mera dimensão da responsabilidade social. Esta reporta-se a alguns elementos comuns com a responsabilidade regional, como o bem-estar social, a justiça ou a sustentabilidade, mas falta-lhe o factor diferenciador que torna especifica ( e isso faz toda a diferença) a responsabilidade regional, que é a proximidade.
Um exemplo. As grandes empresas, de dimensão nacional, como a EDP por exemplo, têm já compromisso assumido com a responsabilidade social e ambiental – comprometem-se a adoptar práticas que minimizem os impactos das suas actividades no meio-ambiente e na comunidade – mas num âmbito geral, global do ponto de vista do território nacional, sem o critério de compromisso com determinada região em especial.
A responsabilidade regional é isto, a proximidade, mas não só. É complementada com um elemento subjectivo; o engajamento regional, a preocupação, traduzida em compromisso, com o efectivo desenvolvimento da região. Na prática isto corresponde a uma empresa não ficar-se pelo seu impacto directo – a gestão de minimização dos efeitos negativos da sua actividade – mas em ir mais além, envolvendo-se activamente, de forma filantrópica e mais vasta, na defesa dos interesses da região, ainda que não directamente coincidentes com os seus interesses imediatos ou mesmo mediatos.
É obvio que este modelo de gestão, regionalmente responsável, não é para todas as empresas. É para as empresas que têm especial relação com a região. Desde loco as micro, pequenas e médias empresas que compõem o tecido empresarial regional – na soma das 13 realidades locais – e para as empresas nacionais e até estrangeiras que tenham especial relação com a região, por presença física, mercado de destino, etc.
Mas estas já são muitas e podem fazer toda a diferença. Já imaginaram o que conseguiríamos com pesos-pesados como Autoeuropa, Navigator, Secil, Repsol Polimeros, Sidurgia Nacional, Continental Teves, Fisipe, Lisnave, Lusosider, Sapec Agro, Hempel, Alstom, Amcor, Coca-Cola (só para falar das maiores exportadoras com sede fiscal na região) a assumirem o compromisso da responsabilidade regional?
Não vejo limites para o que poderíamos alcançar com o engajamento regional do tecido empresarial – das empresas grandes às micro – da nossa região, mas seria, certamente, algo próximo do estatuto de região exemplo, em Portugal e no estrangeiro, em atitude e em resultados de bem-estar colectivo.
A responsabilidade regional é especialmente importante no distrito de Setúbal por duas razões: Primeiro porque falta (ainda e apesar da consagração na Constituição da República Portuguesa, art. 236º n.º1) um dos níveis da responsabilidade descentralizada do Estado – as regiões administrativas, órgãos a que corresponde, por definição, a responsabilidade regional, sendo que aos municípios está cometida, por natureza, a responsabilidade local – e, em segundo lugar, mas de forma nenhuma menos relevante (antes pelo contrário), porque a Península de Setúbal é vítima de uma organização administrativa do território fatalmente penalizante e castradora para o nosso desenvolvimento.
A falta de uma região administrativa – com fronteiras adequadas à nossa ordem natural i.e., idealmente integrados na Região do Grande Alentejo ou, pelo menos, separados de Lisboa – expõe à evidência a lacuna da representação regional. Simplesmente não temos quem legitima, adequada e responsavelmente (no sentido de ater essa obrigação/atribuição) assuma a promoção e defesa dos interesses da região, como um todo.
Esta função – “defesa e promoção dos interesses regionais”- está constitucionalmente prevista e definida para as Regiões Autónomas (Açores e Madeira) e é, naturalmente, transponível para as regiões administrativas.
Por muito que se esforcem – e não vou aqui hoje julgar essa matéria – os autarcas não têm a função, nem o poder para suprir a lacuna da falta de organização administrativa regional. Embora seja justo reconhecer que têm feito muita coisa de âmbito supra-municipal e até já de abrangência regional, também é verdade que muito mais poderia ser feito, sobretudo no domínio político (não tanto no administrativo).
Refiro-me à cumplicidade que os autarcas – de todos os partidos – tem tido com a criminosa integração da Península de Setúbal na Região de Lisboa e Vale do Tejo.
Esta integração – que nos classifica, no acesso aos fundos comunitários, como uma região com um índice de desenvolvimento que não temos – é responsável pelo empobrecimento objectivo da nossa região. Na última década perdemos milhões de euros em fundos comunitários e isso tem um custo de oportunidade em emprego, desenvolvimento e bem-estar.
Neste campo, da integração de Setúbal na “vala comum” de Lisboa – como já lhe chamei e repito – só agora começa a haver quem apareça publicamente a falar sobre o caso. Uns a denunciar a injustiça – casos do Movimento Pensar Setúbal (MPS) e da Associação Industrial de Setúbal (AISET) – e outros a chorarem ‘lágrimas de crocodilo’ (o primeiro-ministro António Costa, por exemplo, veio ao Barreiro esta semana reconhecer que “a Península de Setúbal é a NUT III do conjunto do país que mais divergiu economicamente da União Europeia ao longo de 30 anos” e prometer investimento publico demasiado abstracto, sem iniciar qualquer acção ou procedimento junto de Bruxelas, com vista à alteração desta injusta condição).
Por tudo isto, estou em crer que o contexto social e político está a mudar, que começamos colectivamente a ganhar nova consciência e que a responsabilidade regional será uma conquista deste século XXI, muito mais rápida do que muitos acreditarão.
É por isto que o DIÁRIO DA REGIÃO faz sentido, para uma visão de conjunto, uma consolidação da consciência regional construída dia-a-dia, ao longo de já quase duas décadas.
Este vai ser, podemos adiantar já, o grande tema das comemorações do nosso 20.º Aniversário. Em 2018, ano em que completamos duas décadas, vamos dedicar o ano inteiro à sensibilização para a responsabilidade regional.
É com este pensamento que trabalhamos todos os dias, com seriedade, empenho e determinação, convencidos de que com esta orientação estamos a contribuir para legar uma região muito melhor aos nossos filhos e netos.

Comentários

- PUB -

Mais populares

Incêndio destrói armazém de empresa de brinquedos no Montijo

Sinistro foi combatido por elementos de dez corporações de bombeiros da região

Passageiros da Transtejo vão poder viajar no primeiro navio eléctrico já nos próximos dias

"Cegonha-Branca" prestes a iniciar viagens experimentais, anunciou a presidente da administração da transportadora

Intervenções arqueológicas revelam 21 esqueletos no centro da cidade

Está a decorrer uma investigação no antigo imóvel da Deltagas que pode ajudar a desvendar um antigo cemitério
- PUB -