Distritos com as taxas mais elevadas de novos diagnósticos de VIH são conhecidos. Homens são a população mais afectada.
O relatório “Infecção VIH e SIDA – situação em Portugal em 2019″, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), revela que Setúbal apresenta 11,4 casos por cada 100 mil habitantes e Lisboa apresenta o número mais elevado, com 16,6 casos.
Portugal registou, em 2018, 261 mortes em doentes infectados com VIH, 142 dos quais já com a síndrome SIDA, a fase mais avançada da doença, sendo a maioria homens, com a idade mediana de 53 anos, revela um relatório hoje divulgado.
“A análise do tempo decorrido entre o diagnóstico e a morte revelou que a maioria (55,6%) dos óbitos ocorridos em 2018 teve um diagnóstico de infecção por VIH há mais de 10 anos”, adianta o relatório “Infecção VIH e SIDA – situação em Portugal em 2019″, elaborado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e pela Direcção-Geral da Saúde (DGS).
Segundo os dados, 26,8% das mortes ocorreram nos cinco anos subsequentes ao diagnóstico da infecção e 17,2% no primeiro ano, o que “sugere tratarem-se de diagnósticos tardios”.
Na apresentação do relatório, Helena Cortes Martins, do INSA, adiantou ainda que, entre 1983 e 2018, se registaram 14 958 óbitos.
Helena Cortes Martins destacou a descida de 46% do número de novos casos de infecção por VIH e dos novos casos de sida (67%), entre 2008 e 2017.
“Não obstante esta tendência decrescente mantida, Portugal tem apresentado das mais elevadas taxas de novos casos de infecção VIH e Sida da Europa ocidental”, acrescenta o relatório, adiantando que as estimativas apontam que, em 2017, viviam em Portugal, 39 820 pessoas com infecção por VIH, 7,8% das quais não estavam diagnosticadas.
Novos diagnósticos são maioritariamente homens
“Para cada caso de uma mulher há 2,5 casos de homens”, afirma Helena Cortes Martins, adiantando que a taxa de diagnóstico mais elevada se registou no grupo etário 25-29 anos (23,8 casos por 105 habitantes).
Dos 973 novos casos diagnosticados em 2018, 593 eram portugueses e os restantes de oriundos de outros países. E, nos casos com diagnóstico de novo contágio, em 2018, a prevalência de mutações de resistência para alguma classe de fármacos foi de 14,6%, salienta o relatório.
Em declarações à agência Lusa, a directora do Programa Nacional para a Infecção VIH/Sida, Isabel Aldir, afirmou que “a trajectória do país em termos de novos diagnósticos de infecção por VIH se mantém positiva com cerca de 1 000 novos diagnósticos de infecção em 2018”.
Esta trajectória mantém as características habituais dos últimos anos: “infecções maioritariamente entre homens e adquiridas por via sexual e que se localizam nas grandes cidades”, afirma a infecciologista.
“Estamos a conseguir chegar cada vez mais às pessoas que vivem com infecção e a diagnosticá-las, mas ainda há uma franja da população que ainda não foi diagnosticada e, por isso, é preciso manter todos os esforços de rastreio e torná-los cada vez mais eficazes”, defendeu.
Segundo o relatório, a proporção de infecções não diagnosticadas era mais elevada nos homens heterossexuais (13,9%) e mais baixa em utilizadores de drogas injectáveis (1,5%).
“A população de homens heterossexual é a que chega com diagnóstico mais tardio e como uma idade mais avançada porque são aqueles em que a percepção do risco pelo próprio é mais distante da realidade”, explica Isabel Aldir. “Isto faz com que não se proponham a fazer o teste. Tradicionalmente, esta é uma população que acorre menos aos serviços de saúde e a probabilidade de lhes ser proposto um teste é também menor”.
Almada entre cidades percursoras
Na apresentação do relatório, a directora-geral da Saúde, Graça Freitas, afirmou que todos os ganhos no combate a esta doença só foram possíveis porque “há um trabalho em rede”.
“É no conjunto desta estratégia e parcerias que o país atingiu resultados que não envergonham, mas vamos continuar a trabalhar em parceria para que esta situação ainda seja mais favorável”, disse Graça Freitas.
Os responsáveis saudaram o facto de 10 cidades já terem aderido à iniciativa “Cidades na via rápida para acabar com a epidemia de VIH”, nomeadamente: Lisboa, Porto, Cascais, Amadora, Sintra, Oeiras, Odivelas, Loures, Almada e Portimão.