27 Abril 2024, Sábado
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Cosplay como arte de viver na pele de outros

Em fases diferentes da vida, Leonor Grácias e Dora Alexandra encontraram na interpretação de personagens o “pedacinho” que lhes faltava

 

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É ao fundo do corredor da casa de Leonor Grácias que a magia acontece. Lá, no pequeno escritório apetrechado com materiais de costura, fatos exibidos em cabides e registos de participação em eventos que cobrem as paredes, a rapariga de 32 anos dá vida a diversas personagens pela arte do cosplay.

“É a minha vida”, confessa Leonor. E não mente. Nestas quatro paredes confeccionam-se fatos, encomendam-se perucas e testam-se lentes de contacto, tudo para ficar o mais idêntica possível às personagens das séries japonesas que admira, não fosse cosplayer há 16 anos.

“Já interpretei mais de 50 personagens e fiz mais de 100 fatos”, afirma ao passar os dedos pela roupa costurada à mão, cujos pormenores evidenciam as largas horas de trabalho investidas.

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“Existem pessoas que gostam de dar a sua imaginação ao mundo e é isso que fazemos com o cosplay. Deve ser a arte mais completa que existe. Somos encenadores, actores, cantores, fotógrafos. Temos de saber uma montanha de coisas”, conta a barreirense.

Actualmente, trabalha como cosmaker, a confeccionar vestuário e adereços para quem se diverte a interpretar personagens, mas não é apenas por isso que é considerada uma referência no mundo do cosplay português.

Em 2011 iniciou-se no mundo competitivo. Sobe a palco, encarnando um papel, onde é avaliada pelas semelhanças com a verdadeira personagem. “São horas e horas de trabalho. Muito estudo para compreender a personalidade de quem estamos a tentar criar”.

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Já representou Portugal no estrangeiro diversas vezes e foi a primeira portuguesa a pisar o palco do ‘World Cosplay Summit’, o mundial realizado no Japão. Em 2016 fundou a ‘ANAC-Associação de Cosplay’ e três anos depois foi convidada pela editora ‘LeYa’ a escrever o primeiro livro sobre o tema, em Portugal.

Hoje, diverte-se a pensar na primeira vez que participou num evento. Tinha 14 anos e exibia alegremente o vestido de Sakura, personagem de anime, costurado pela avó quando descobriu que estava no lugar certo: “Era o pedacinho que faltava à minha vida”, declara.

“Não tinha pessoas que falassem a mesma língua que eu”

Quando Dora Alexandra descobriu o cosplay, sentiu a vida mudar “a 180° graus”: “Estava a atravessar uma depressão. Era muito introvertida e o meu grupo de amigos sempre foi muito restrito porque não tinha pessoas que falassem a mesma língua que eu”, recorda a setubalense.

Gostava de ver anime e ler manga e há sete anos imaginou-se a ser a sua personagem predilecta por um dia. Experimentou, gostou e já não conseguiu parar.

“Aquilo [cosplay] acabou por curar o que eu tinha, não a 100 porcento, mas ganhei algo onde me podia apoiar. Uma espécie de combate ao stress. Hoje, sou mais espevitada”, admite a jovem de 26 anos.

Com a desinibição veio também a vontade de competir neste mundo de fantasia. Investiu num curso de costura para conseguir confeccionar os seus próprios fatos e em 2019 estreou-se no ‘European Cosplay Gathering’ (ECG), concurso onde foi apurada para a final, em Paris.

Na sua mais recente prestação, decorrida em Maio, representou Portugal na final do ‘Cosplay World Masters’ com a personagem japonesa Sakizou.

Admite não deixar de se sentir nervosa quando sobe a palco, mas acredita que na ‘hora H’ deixa de ser “a Dora nervosa e quietinha” para se transformar por completo na personagem. Entra em palco, encara a plateia e conta ao público “uma história” que os convença de quem têm à frente.

Respeito por uma arte

“Porque gastas tanto dinheiro em fatos de Carnaval?”, chegou Dora a ouvir da família. Por mais que tentasse explicar, sentia que era incompreendida e só quando testemunharam a prestação da rapariga em palco entenderam a dedicação com que trabalhava.

“O facto de vestirmos [uma personagem] muda o nosso bem-estar pessoal e interpessoal e as pessoas têm de começar a entender isso”, afirma a rapariga.

Viver para o cosplay já o fazem, mas Dora e Leonor ambicionam fazer do hobbie um meio de sustento, algo que ainda consideram difícil em Portugal. “O cosplay tem de ser respeitado”, diz Leonor. “É uma arte como a pintura, a dança, o canto. Se estas são respeitadas porque é que o cosplay não é?”.

Foi por este motivo que, em conjunto com o pai, criou a ‘ANAC-Associação de Cosplay’ e tem trabalhado para que toda a comunidade encare o que “centenas de pessoas espalhadas pelo país” gostam de fazer como uma arte.

“Nem todos somos rectângulos, nem carneirinhos numa cerca. Às vezes somos triângulos, bolas, paralelepípedos, pessoas que gostam de expressar a criatividade que está contida e é isso que fazemos através do cosplay”, frisa a barreirense.

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