O que eu vou dizer-vos aqui não é, seguramente, de teor crítico-musical. Nem tão pouco de (grande) conhecimento do historial da banda Xutos & Pontapés. Nada disso. É bom que fique claro. (Nem tenho moral para isso).
O que me leva a escrever este texto é tão simplesmente movida por um ato de gratidão por tantos anos de grandes momentos que vivi ao som de quantos (?) temas dos Xutos & Pontapés. Muitos deles ouvidos ao vivo. Na festa do Avante. Nas festas de Corroios. Em Setúbal. Em Grândola. Na Praça do Comércio… Outros ouvidos na rádio e outros em quantas (?) gravações.
Quando vim viver para a Margem Sul, há mais de trinta anos, via repetidamente inscrições nas parades com as palavras «Xutos & Pontapés». Punha-me a pensar nesta espécie de pleonasmo que a expressão encerra. Durante algum tempo sem saber que era um nome de uma banda musical.
X para xutos? Dá um cunho original ao nome. Com x ou ch (existia?)? Aproveitaram, com certeza, a polissemia e a metáfora da coisa.
E desde então, fui conhecendo o trabalho da banda, muito naturalmente. E conhecendo muitos fãs da banda, muito naturalmente. E também conhecendo muitos fãs, em particular, do guitarrista Zé Pedro, que recolhiam o maior número de autógrafos do músico em cada encontro, quer aquando da atuação dos Xutos quer noutros contextos. Faziam por acompanhar a caravana. O Zé Pedro, em particular.
Letras incríveis. Melodias tocantes. Narrativas que tão bem nos assentam. Energia imparável.
Às vezes ficamos imóveis. Outras, ficamos a pairar no vazio.
Às vezes sentimos que cá faz mais frio. Hoje, por exemplo. Fora e dentro de nós. O mercúrio dos termómetros… Mais porque alguém se ausenta. Alguém que não voltamos a ver. Mesmo sabendo que permanece sem a vermos.
Há amigos que não são do nosso círculo, mas tão íntimos como se fossem. Que nos proporcionam momentos bonitos e de grande interação emotiva. No caso, com um contributo poético e musical que ajuda a aguentar e a animar o lado forte que precisamos para o dia-a-dia.
Xutos & Pontapés, grandes poetas e grandes músicos.
É bom conhecer pessoalmente os indivíduos como estes.
Mas se não conhecemos, basta conhecê-los pelo que de melhor eles querem ser conhecidos: um projeto artístico de alguns para muitíssimos.
É caso para dizer: O que seria de nós se não fosse o Rock and Roll dos Xutos?
Fazemos parte de algumas gerações que muito sofreriam se morresse o Rock and Roll. O bom Rock and Roll.
Por isso, o nosso agradecimento aos Xutos & Pontapés é imenso.
Sabemos que a música não é só o Rock and Roll. Mas os Xutos & Pontapés são mais do que o próprio Rock and Roll.
Desculpem-me a ousadia. Mas para mim há muito fado nas letras e em certas composições musicais deste grupo tão português, tão coeso, tão longevo.
Estamos de luto, é certo.
Mas contamos com os Xutos.
Um aperto de mão. Um nó na garganta.
Mas juntos, iremos.
Ao leme, claro.