Paris, um sinal e um problema grave

Paris, um sinal e um problema grave

Paris, um sinal e um problema grave

, Médico
12 Julho 2023, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

Paris, como disse há uma semana, é uma cidade dos meus sonhos

 

Paris tem sempre sido, pelo menos no meu sentir, e em muitos aspectos, a origem de mudanças importantes para as nossas vidas, ao longo da história. Não recuando muito nos tempos, basta lembrar a verdadeira conquista da Liberdade e da Fraternidade entre os homens transformados em “cidadãos”.

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Esquecendo a Primeira Guerra Mundial, lembremos a sua colaboração na derrota do nazismo e do resistente De Gaulle. E não esqueçamos a revolta estudantil de Maio de 68 que, mesmo sem objetivos bem definidos foi, quanto a mim, uma verdadeira contestação à maneira de viver que se estava consolidando com graves implicações, de que hoje estamos sofrendo consequências que nem toda a gente vê ou sente. Um encaminhamento para uma verdadeira derrocada das nossas sociedades, onde domina como rei e senhor o capital e se subalterna o trabalho que é verdadeiramente o que dignifica o homem

Há umas décadas, a vida dos cidadãos e das sociedades, alvo duma inebriante subida das ciências e suas aplicações práticas, do poder inventivo de cérebros privilegiados, colocou nas nossas mãos a capacidade de, com um simples clic, não só falar instantaneamente para os antípodas como voar quase à velocidade do som, de criar imensas máquinas que substituem o trabalho do homem.

Mas, em simultâneo com essa aplicação prática dos mais inesperados inventos, foram-se deteriorando aquilo a que desde há séculos chamávamos “princípios”. E o homem transformou-se em lobo do homem numa luta permanente e feroz pela conquista de poder, bens, dinheiro e comodidades – de imediato se iniciou a concorrência feroz entre os países com mais poder económico e militar.

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Acontece que para esse tremendo boom tecnológico começou a ser necessário, além de combustíveis tirado das entranhas da terra sem olhar a consequências, variados metais e outras substâncias que foram verdadeiramente “arrancadas” ou “roubadas” a muitos países onde essa chamada civilização não chegara.

Como resultado dessa exploração mal paga ou tirada à força, e como consequência das agressões à “mãe Terra” que foram alterando essa máquina maravilhosa que era a Natureza e suas regras, muitas terras deixaram de ter condições de vida para os seus naturais que começaram a fugir aos milhares na procura dum lugar para viver.  E as grandes cidades começaram a ser procuradas por multidões de outros países, de outras raças, de outras religiões – numa palavra: diferentes. Apoiando-se uns nos outros foram formando bairros enormes e com poucas ou nenhumas condições dignas de vida separando-se (ou sendo separadas praticamente à força) dos naturais (como aconteceu com os portugueses e o famoso “bidon ville”). E Paris exercia uma verdadeira sedução sobre os imigrantes fugitivos. E Juntemos a estes fenómenos um outro de importância capital, a descolonização dos territórios ocupados e explorados durante séculos. Há, portanto, nessas cidades e nesses bairros periféricos – verdadeiramente excluídos – já várias gerações. Uns morrem nas caminhadas, muitos afogados, muitos esperam ao relento junto às fronteiras vedadas, outros são recambiados às origens e quase todos são alvo dos exploradores de seres humanos enviados para onde os “comprem” para trabalhar sem condições condignas

Paris, com a sua tradição de protagonista das tais mudanças estruturais da sociedade em que vivemos, e sofrendo deste problema candente dos imigrantes – explodiu há umas semanas e durante vários dias foi um pandemónio de lutas, cargas policiais, feridos e até mortes. Tudo provocado pelos mais jovens e inconformados. Pela sua violência e por ser em Paris, o mundo alvoraçou-se e acordou.

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Afinal há um grave problema de migrações (e sabe-se bem porquê!), afinal há um problema de pobreza extrema e de exploração em vários lugares, afinal nada (ou muito pouco) se faz para acolher e integrar essas pessoas que geralmente são de outra cor, de outas religiões e de outros hábitos ancestrais.

Tudo isto existe nos quatro cantos do mundo, mas na Europa e – especialmente em França e em Paris, talvez, (repito: talvez), leve os “mandantes” do nosso mundo a olhar mais seriamente para o gravíssimo problema desta sociedade em que vivemos, exclusiva, exploradora, que faz muros em vez de pontes, que se preocupa com défices, inflações, etc, sem olhar aos que vivem ao frio, sem teto e, pior, explorados e excluídos. E juntemos ainda a conflitualidade religiosa, o racismo, e a violência policial para tal industriada!

Por isso escrevemos título: Paris, um sinal e um problema. Um problema que é muito grave, que existe bem à vista, mas quem manda não quere olhar. É criminoso!

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