Há muitos milhares de anos, durante a história da nossa humanidade, os povos de diversas etnias andavam em guerras permanentes. Eram povos de costumes muito primitivos, certamente de baixo nível de educação e ainda de muito mais baixo nível do sentido de entreajuda – eram cruéis e a força era sempre o seu motivo para as suas lutas e conquistas. Como homens primitivos que eram tinham um sentido bem presente um sentido da sua pequenez face a um Poder Criador que tudo conduzia. E naqueles ambientes de lutas permanentes e de atrocidades sem nome, aparecia de tempos a tempos um deles com um discurso moralizador e afirmando que um dia viria um Salvador que meteria tudo na ordem. E assim se foram passando milénios onde como é natural os costumes se iam modificando e até o tal espírito sanguinário se ia atenuando. E nesse processo evolutivo, sempre integrado nos costumes da sua época lá aparecia mais um homem bom profetizando que um dia viria um salvador que traria a paz e a concórdia. Aí há pouco mais de dois mil anos nasceu naqueles lados um homem que cedo – ainda criança – mostrava se muito diferente dos outros e que só falava de ajuda aos pobres e aos doentes – começando a arrastar á sua volta muita gente seduzida por aquele discurso . Ora, um dia entrou numa sinagoga – um templo da época – e ao fazer uma dessas leituras que prometia que um dia viria um Salvador, fechou o livro e disse: hoje realizou-se esta profecia! Estava declarando que ELE era esse Salvador, que era o Filho de Deu! Agitou-se a Assembleia e quiseram até matá-lo ! Os que o seguiam foram crescendo em número e Ele foi mesmo para a capital onde os sacerdotes de então vendo o seu poder a ser contestado criaram um enredo junto do Poder romano, que tinha alastrado a todo o Ocidente e…mataram-no. Mas a maneira de viver que ELE ensinara foi colhendo cada vez mais adeptos, durante anos perseguidos, acabaram por ser tolerados e foram-se organizando e criando, à maneira do Imperio Romano, uma hierarquia piramidal: no topo um Papa cuja palavra era sagrada, depois cardeais que formavam uma espécie de governo, seguiam-se os bispos em cada grande comunidade e os presbíteros á frente de comunidades mais pequenas.
Ora, passados que são mais de dois milénios, olhando á nossa volta vemos que , apesar do tremendo desenvolvimento saído da inteligência dos homens, essa hierarquia se cristalizou em modos de há séculos atrás (não se adaptou á tremenda e rápida evolução civilizacional), os seguidores do Salvador foram abandonando esses rituais carunchosos e – eis o problema dramático – os costumes deterioraram-se e a tal ânsia de poder a qualquer preço renasceu com força redobrada, os pobres e doentes continuam a ser quase abandonados, as contendas voltaram a ser resolvidas com guerras usando cada vez armas mais destruidoras e os homens enganand-.se uns aos outros de maneiras mais refinadas. Será que o sacrifício desse Jesus foi em vão? Será que os Profetas se enganaram ou nos mentiram? Não está o mundo e a nossa civilização à beira dum desastre total?
Começou, segundo a liturgia cristã, o Advento, isto é, a “espera” pelo nascimento do Salvador (o Natal). Ora se os Profetas não se enganaram, todos aqueles que se dizem (ainda) cristãos têm de acordar e lutar, numa verdadeira revolução (da ternura) pelo bem comum, têm de se organizar contra a fome , têm de usar o dinheiro que se gasta em armas de destruição, em auxílios aos que vivem no subdesenvolvimento, os fossos entre ricos e pobres têm de ser transformados em pontes, as mentalidades egoístas têm de se preocupar com os desprotegidos – há que mudar muita coisa nas nossas maneiras de viver. O Advento é o período criado para se pensar, para se discutir, para se tomarem decisões radicais e iniciar um mundo novo. Ainda há tempo?