26 Junho 2024, Quarta-feira

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Uma verdadeira loucura

Uma verdadeira loucura

Uma verdadeira loucura

, Médico
7 Setembro 2022, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

A ministra da saúde pede a demissão alegando não ter condições políticas para continuar nesse cargo de grande responsabilidade. Se fez um bom lugar ou não, fica ao critério de cada um, mas ficou – isso sim – ao critério do chefe do executivo. E não ter condições políticas significa que  a Senhora ministra perdeu o controle do processo que tinha em mãos, isto é, estava em choque com os vários trabalhadores da saúde – médicos, enfermeiros, técnicos e pessoal auxiliar. Significa portanto que perdeu poder de conciliar críticas e opiniões diferentes.    E tal situação significa que  a reforma do Serviço Nacional de Saúde que  ela, e portanto o governo que nos rege presentemente, não era aceite pelos vários setores do SNS. Significa que os portugueses perderam a confiança nela e no governo Ora o inédito e ridículo é que a “obriguem” a completar uma “reforma estrutural” sem pés nem cabeça. Uma reforma que cria  “por cima” do ministro uma “direção executiva” com pessoas que certamente serão da sua confiança e com as qualidades que ela! entende serem as apropriadas para tal exótica função. É de loucos pensar que depois de tudo isto se vai descobrir um ministro ou ministra para executar tudo aquilo em que não participou ou – até – pode discordar. E como dissemos no nosso artiguinho da passada quinta-feira, temos evidentes sinais de que  ninguém ainda deu mostra de que sabe verdadeiramente o que é um Serviço de Saúde com três carreiras:  as dos cuidados secundários /leia-se “dos hospitais”, a carreira de Saúde Pública e a carreira dos “cuidados primários” (leia-se “dos centros de saúde e dos médicos de família).

E essa ignorância vai do simples comentador, duma enorme plêiade de médicos de múltiplas especialidades até ao Sr. Presidente da República. É de loucos uma lei de bases da saúde que não evidencia o papel primordial da rede de “unidades de saúde familiar”, que cria um gestor acima do ou da ministra ,é de loucos (ou ignorantes) colocar em primeiro lugar  o problema das remunerações esquecendo  a qualidade dos vários tipos de trabalhadores da saúde, ou o estimulo das carreiras.  E perante o descalabro das urgências de obstetrícia, das filas nos centros de saúde, dos atrasos em consultas especializadas, em rastreios, em educação para a saúde, e depois do destroçar das USF  após a pandemia,  é na realidade uma loucura manter a demissionária ministra com responsabilidades enormes.

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O nosso Primeiro Ministro, um político experiente , com maioria absoluta no Parlamento e com excecionais disponibilidades económicas dos dinheiros da tal “bazuca”, está perdendo a oportunidade única de reconstruir um verdadeiro Serviço Nacional de Saúde. E os problemas não são só responsabilidade do ministério da saúde, são também do ministério da economia e até do ministério da Educação. Um médico de qualquer especialidade leva anos a “fabricar” e essa formação não pode – por exemplo – depender exclusivamente da média final do curso, é necessário contar com as capacidades relacionais ou com os objetivos que o aluno tem para a profissão de médico. É necessário que não seja o ministro da economia a determinar o que se pode ou não gastar para o SNS

E temos um número de médicos satisfatório, e temos uma formação invejável – apreciada no estrangeiro – só faltando as condições para os fixar no SNS e não os deixar fugir para a medicina /negócio ! Nunca houve tantos hospitais privados, tantas clínicas privadas, tantos seguros de saúde. Independentemente das ideias políticas não parece discutível que o médico ou o enfermeiro tenha de prestar uns anos de trabalho no SNS para “pagar” o que custou a sua formação, e depois criar as tais condições para aí – de sua livre vontade – permanecer fazendo “carreira” e sentindo gosto no seu trabalho em prol da comunidade

Senhor Primeiro Ministro tenho pena de o incluir e responsabilizar por este ato de loucura!!

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