Passou o Domingo de Ramos, que inicia o período mais importante da vida dos cristãos, pois com ele entrámos na Semana Santa e na paixão, morte e ressurreição de Jesus, que é o centro da Fé cristã.

Há pouco menos de trinta anos passei este dia na Palestina (hoje Israel), numa peregrinação de setubalenses. O grupo andou durante uma semana pelos lugares por onde – diz a tradição – andou Jesus.

É evidente que, para um cristão, esta viagem não constituiu apenas uma viagem de turismo pois significou bem mais do que isso – pisar os mesmos locais por onde acreditamos que andou Jesus tem uma consequência muito mais emotiva e profunda (I).

E estar no Monte das Oliveiras, com as milenares oliveiras que, pelos troncos grossíssimos, nos dão o garante de terem sido contemporâneas de Jesus (II), navegar no mar da Galileia, onde Jesus motivou Pedro a segui-lo e onde se diz que andou sobre as águas (III) e ter feito uma imitação da via-sacra, com uma cruz aos ombros, recordando o sofrimento de Jesus (IV).

Pisando o local onde tudo indica que esse mesmo Jesus foi crucificado (V), tudo isto traz a um primeiro plano os motivos da nossa Fé e o verdadeiro e profundo sentido da Mensagem, da Boa Nova que nos trouxe essa figura ímpar que se dizia “Filho de Deus” e lavava os pés aos seus discípulos e conviveu com prostitutas e leprosos!

Empenhados profundamente nos nossos problemas e nas emoções da visita, não tínhamos a percepção que, por aquela terra, andavam muitas outras peregrinações. Foi para mim um momento marcante a entrada em Jerusalém pelo caminho que Jesus fez há dois mil anos!

E centenas e centenas de pessoas convergiram, formando uma multidão (como certamente aconteceu há dois mil anos, rodeando Jesus) no caminho para uma das portas das muralhas, certamente com as mesmas manifestações ruidosas, com os mesmos cânticos, as mesmas manifestações de alegria, agitando flores e folhas de palmeiras.

A alegria era contagiante – agora por sabermos como a Sua mensagem triunfou! Mas há dois mil anos toda aquela multidão pensava que Jesus seria um chefe para libertar a Palestina dos seus ocupantes romanos, sem a percepção de que Ele iria sacrificar-se, dar a Sua vida pelos homens e assim vinha dar o verdadeiro sentido à nossa vida.

Ele vinha afinal ensinar os homens que a vida não termina com a morte física, mas que temos à nossa espera uma outra parte do caminho. Como disse Santo Agostinho: a vida tem duas margens – o lado das criaturas e o lado do Criador. E só depois do sacrifício e da ressurreição de Jesus podemos compreender que vivemos aqui para os outros, especialmente para aqueles que a sociedade centrifuga para as margens e de quem não cuida!

E após a nossa morte física passamos para o lado do criador, o lado da felicidade plena e do amor! Tudo isto adquire sentido com a sua Paixão e – essencialmente – com a sua ressurreição, com a Páscoa que viveremos dentro de dias!

A minha vivência deste “Domingo de Ramos”, recordando o vivido em Jerusalém, foi marcante para mim e mais ainda após a pandemia e – agora – com a tragédia da guerra, de terror, na Ucrânia!

A pandemia e a crise provocada pelas sequelas da guerra também servem para olharmos a nossa vida, visitarmos o nosso interior e descobrirmos tanta coisa que dentro de nós está mal resolvida e que tanta coisa tem de ser modificada nas nossas vidas e na nossa sociedade!

E até temos um Governo em início de funções e uma Europa unida a possibilitar – direi melhor – a exigir um novo arranjo, uma verdadeira “revolução” como diz o Papa Francisco. Uma revolução sem armas mas com fraternidade.

Não percamos esta oportunidade e teremos uma verdadeira Páscoa! Eis o que este “Domingo de Ramos” me fez recordar! E que os que se dizem cristãos assumam esta oportunidade e os que estão “cegos” vejam a oportunidade, os que estão “surdos” ouçam os gritos dos pobres e dos imigrantes e os que estão “paralíticos” metam pés ao caminho da mudança para o tal mundo, melhor!