29 Junho 2024, Sábado

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Ouçamos os gritos dos povos!

Ouçamos os gritos dos povos!

Ouçamos os gritos dos povos!

, Médico
16 Março 2022, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

Há uns vinte dias os blindados dos exércitos de Putin entram por várias frentes no território da vizinha Ucrânia, e simultaneamente os mísseis teleguiados começaram a cair duma maneira indiscriminada sobre várias das suas cidades.

Putin e as suas tropas pretendem cortar o acesso da Ucrânia ao mar e ocupá-la, pelo menos até ao rio Dnieper. E é evidente que, numa verdadeira acção messiânica, Putin quer “reconstruir” a Velha Rússia czarista mesmo que para isso calque toda e qualquer regra ou lei do direito internacional ou da ética que esteja estabelecida entre as Nações para uma possível convivência mundial.

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A reacção ocidental, esquecendo múltiplos avisos bem evidentes há muito, foi lenta, mal orientada e… medrosa face à” bravata” atómica agitada pelo Sr. Putin. E nestes todos os órgãos de informação , em especial, todos os canais de televisão, esmagaram-nos com as imagens duma destruição e crueldade tremendas.

É que além das ruínas e das imagens das explosões e das chamas em directo, sem sabermos bem se eram verdadeiras nos locais apresentados e nas datas anunciadas, nos mostraram um povo, aos milhares, fugindo de qualquer maneira daquele verdadeiro inferno.

E são mulheres com crianças pela mão e quase sem quaisquer bens, além duma sacola às costas ou uma mala arrastada penosamente pelas suas rodinhas. Eram os gritos dum povo pedindo ajuda numa fuga desordenada, em imagens que abalaram profundamente todas as pessoas do nosso ocidente europeu – estávamos perante um verdadeiro inferno mas também dum verdadeiro atentado à sensibilidade e às emoções das pessoas.

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E todos os outros problemas – e graves- existentes no mundo se eclipsaram por obra e graça do Sr. Putin!

E ninguém ouviu mais falar da pandemia, nem das consequências sobre as economias dos povos, ninguém mais ouviu falar do desemprego, dos bairros da lata ou da pobreza , e até da tragédia da seca que estamos vivendo. Os gritos destes e dos muitos excluídos da sociedade que nos rege e em que vivemos, deixaram de se ouvir!

Os gritos dos povos em guerras de há muito tempo, na Síria, no Iémen, no Afeganistão, no norte de Moçambique, ou nos Congos, apagaram-se por encanto. Os gritos de tantos que sofrem perseguições pela cor da sua pele, da sua religião ou pelas suas opções sexuais deixaram de ecoar nos noticiários dos nossos dias.

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Os verdadeiros gritos dum Guterres, na ONU, ou dum Papa Francisco em Roma, perdem-se pelos espaços infinitos. Os rostos dos milhares de refugiados amontoados nos verdadeiros campos de concentração em Lesbus na Grécia, os gritos de verdadeira angústia dos milhares que se afogam ao atravessar o Mediterrâneo fugindo igualmente das guerras e da fome esfumam-se pelos ares e já ninguém ouve?

Sou, talvez pela emotividade fácil da idade, dos que mais tem até vontade de verter uma lágrima pelo êxodo dos milhares de mulheres e crianças da Ucrânia, tenho vivido com redobrada emoção essa onda de solidariedade em movimento para acudir a esses refugiados, mas incomoda-me sobremaneira que se tenha generalizado uma surdez tremenda aos outros muitos “gritos do povo” que continuam – e já há muito tempo – a ecoar pelos ares… sem serem ouvidos.

Não nos podemos esquecer que o nosso mundo não se limita à Ucrânia e há muito tempo se cruzam pelos ares muitos outros gritos a que não podemos continuar a fazer “orelhas moucas”.

Ouçamos os gritos de todos os povos que sofrem. O mundo está a tornar-se num “barril de pólvora!”.

E já agora pensemos em quem mete as armas nas mãos desses fazedores de guerras…!

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