Uma das características mais interessantes de muitos seres é a memória, incluindo, é claro, os seres humanos. E os cientistas dizem que a mente humana tem três zonas: o subconsciente onde se armazenam coisas desagradáveis, que não gostamos de recordar, a consciência propriamente dita com que jogamos a nossa vida e uma zona onde guardamos imagens de objetivos que gostaríamos de atingir. Vem este arremedo pseudocientífico a propósito de muitas coisas que esquecemos. E julgo que foi S. Freud que disse que não há esquecimentos inocentes, isto é, que muitos dos esquecimentos têm um significado oculto.
Ora, temos visto na televisão muitos interrogatórios feitos em comissões de inquérito da Assembleia da República, com o objetivo de esclarecer problemas graves que lesam o Estado e, no fim, o povo, todos nós. Casos de verdadeira corrupção de altas figuras que ocupam cargos importantes e que têm revelado uma falta de memória impressionante. Nos últimos dias os telejornais massacraram-nos com esses problemas dum presidente dum clube de futebol de prestígio internacional. Uma semana antes eram os problemas fraudulentos dum senhor até condecorado por dois Presidentes da República, igualmente com fraudes de milhões de milhões aos bancos, e antes destes ocupava-se a Polícia Judiciaria com gestores de bancos, com diretores de grandes empresas e até com políticos.
E quando a justiça resolve investigar um desses casos, tal como as cerejas, vêm mais uma dúzia de casos agarrados. Eu não sei se nos longos interrogatórios perante os juízes acontece o mesmo que nos tais inquéritos dos nossos deputados, tornados públicos, se se passa a mesma amnésia epidémica que faz com que os inquiridos não se recordem de nada, mesmo coisas banais como quanto pagam de renda da casa ou se moram em casa própria ou alugada. Será que temos, à frente de altos negócios, só atrasados mentais ou doentes de Alzheimer? Julgarão essas pessoas que todos somos ingénuos? Quando se percebe que esses movimentos de milhões foram efetuados com grandes traficâncias que só mentes especiais podem congeminar.
E agora, em plena pandemia que nos obriga a trazer a cara tapada e nos dizem que devemos guardar uma distância de um ou dois metros do nosso próximo, e os noticiários nos vão dando conta dessa outra verdadeira pandemia que é a corrupção, em quem pomos confiar? Temos agora que começar a olhar para quem é condecorado pelos seus serviços à sociedade com legítima suspeição? E temos de começar igualmente a suspeitar de gente importante com os tais sinais de perda de memória? Se se esquecem de coisas banais há “gato escondido com o rabo de fora” e, então, há trabalho para a polícia, para os juízes e devemos pensar que depois de muitas investigações corremos o risco de sentir que estão a mexer no nosso bolso!
Em que sociedade vivemos agora? Acabou a honestidade e o dever de trabalhar para o bem comum?
É bom que façamos todos um exame de consciência e mudemos os nossos objetivos de vida, pensando que a vida só vale a pena ser vivida se reinar a fraternidade e a verdadeira entreajuda entre todos – ou a sociedade afundar-se-á num abismo sem sentido!
