O nome Fátima está, como sabemos, mundialmente associado ao santuário erguido há 100 anos na Cova de Iria, Portugal, numa altura em que três crianças revelaram os seus encontros com a Nossa Senhora e outras entidades celestiais.
Na comunidade religiosa, viveu-se um século de fé, de missões, projetos, orações, encontros mais ecuménicos, sobretudo católicos, congregações, rituais, promessas, provações, alianças, conversões… Também sentimentos de desconfianças, desilusões, ceticismos…
O milagre de uma mãe que escolhe três dos seus filhos mais novos e fala com eles.
Porque é que estas crianças foram escolhidas para a ideia fundacional de Fátima?
É um milagre, no qual eu cresci a acreditar, que assenta numa escolha que julgo que ninguém saberá seguramente explicar. Num universo repleto de milagres que é aleatoriamente criterioso…
Meninos do campo agora canonizados.
O que, para mim, me leva a equacionar a potencial pureza que existe (?) em cada um de nós e que não é, por natureza, milagre. A não ser o facto de ser um facto da esfera do milagre da existência humana.
Dá-se o caso que naturalmente esperamos que a vida/destino/providência divina/humanidade preveja, no âmbito dos seus planos mais essenciais, a vivência da fraternidade, a possível igualdade entre nós e nos proporcione uma existência de cidadãos livres.
– O prometido é devido! – passamos a vida a reclamar, nós crianças, a esse adulto mundo da existência cósmica a pressuposta intenção primordial de nos preparar para a vida e não para uma qualquer vida: aquela de querermos ser felizes por direito, por orientação de uns bons pais que gostam dos seus filhos.
Por isso, quando a vida não nos corre bem, ponderamos culturalmente o recurso às promessas.
Embora por princípio não gostemos de fazer promessas, pois sabemos quão vinculativa pode significar a nossa responsabilidade de as cumprir, fazemo-las para salvar a pele quando está em risco (e não falo das promessas inequivocamente mundanas).
Então porque fazemos promessas?
Porque vivemos a vida neste constante movimento pendular de dar para receber. E também porque, se calhar, acreditamos que temos algum poder para interferir no ciclo da (re)criação e/ou (re)invenção humana…
Conscientes da pequenez humana, aprendemos pela experiência de vida comunitária, os valores da cultura, os momentos únicos vividos por cada organismo vivo, o caminho dos compromissos para o valor da vida com sentido.
São as promessas que fazemos a nós próprios que nos ajudam a não desistir.
Somos crianças de Fátima, encandeados com o brilho do belo, que é o amor em cada ato de criação.