Eis um título que certamente para muitas, mesmo muitas, pessoas será um escândalo ou mesmo uma loucura! E no entanto o seu autor foi o Papa Francisco e insere-se numa frase que vou escrever na íntegra : “A política é a forma mais alta, maior, da caridade. o amor é político, isto é, social, para todos” e acrescentou que a falta de universalidade do amor faz com que a política adoeça”. E esta ideia foi dita há poucos dias perante um conjunto de delegações de jovens de vários países, reunidos em Roma.
Nesta coluna de opinião temos falado imensas vezes que o amor é o verdadeiro miolo não só do desenvolvimento da pessoa humana mas também da nossa vida em sociedade. Aqui temos muitas vezes criticado as nossas sociedades e a nossa organização social por desenvolver a sua capacidade produtiva de bens e tecnologias essencialmente com fins lucrativos e depois não saber, ou não querer, distribuir equitativamente por todos, Pior ainda, concentrando essa riqueza em meia dúzia de mãos deixando muitos outros com pouco ou mesmo sem nada. Esta é uma realidade há muitas décadas agora muito posta a nú pela pandemia em que estamos envolvidos. Muitas vezes temos dado umas “alfinetadas” aos que se dizem cristãos pela sua conformidade com esta situação injusta, pela exagerada obediência aos ritualismos anquilosados por séculos esquecendo as realidades de vida sofrida de tantos à nossa volta. E por onde anda “esse bom odor de Cristo” ou o “vede como eles se amam” que devia caracterizar as nossas comunidades cristãs ? Que medo muitos têm da palavra política, que poucas manifestações de cidadania transparecem das nossas comunidades!
E os nossos papas , depois de Leão XIII ter iniciado oficialmente as preocupações da Igreja com os problemas sociais,(e passados setenta anos sobre o “manifesto” de Marx e Enguel pôr o dedo na ferida!) todos têm produzido numerosas “encíclicas” contruindo o esplêndido edifício da “doutrina social da Igreja”. E veio o “Concilio Vaticano II” que arejou a vida doutrinal da Igreja. Mas será que a vida quotidiana dos cristãos passou dar o tom à vida das nossas sociedades? Não estamos vivendo uma pandemia de corrupção, dum fechar de olhos aos pobres e aos migrantes fugidos das guerras e de modos de vida miseráveis, e ao medieval tráfico de pessoas humanas ?
Depois de cinco anos a ouvirmos as palavras e os atos do Papa Francisco é nítida a diferença na conduta e no empenhamento das nossas comunidades ditas cristãs? Em boa verdade continuamos afastados da condução da nossa vida social, continuamos pouco interventivos na organização política da nossa freguesia, da nossa cidade, do nosso país. Por tudo isto não resisti a fazer eco desta afirmações de Francisco sobre a política ! Em especial a afirmação de que o amor é político que me fez meditar e me deu coragem para escrever estas linhas.