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O Serviço Nacional de Saúde

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O Serviço Nacional de Saúde

, Médico
3 Fevereiro 2021, Quarta-feira
Mário Moura - Médico|

O nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi uma das maiores conquista do “25 de Abril” e se alguém duvidava desta afirmação, a pandemia que nos envolve veio demonstrar que esta afirmação é correta.  Com o SNS criaram-se três carreiras médicas – os Cuidados Primário de Saúde com a carreira de medicina Familiar, uma carreira de Saúde Pública que a pandemia veio demonstrar a sua utilidade, e os Cuidados Secundários com a carreira Hospitalar, o verdadeiro coração do sistema de saúde. Os hospitais foram sempre o que as populações identificavam com a Medicina pois neles se refletiam os efeitos dos avanços tecnológicos e dos avanços da cirurgia com os transplantes e a cirurgia reparadora. Os Cuidados Primários foram sempre o parente pobre dum sistema de saúde e no entanto eram os clínicos gerais, depois médicos de família, que resolviam oitenta por cento dos problemas da população. Esquecendo esta realidade, os hospitais com a sua tecnologia eram a imagem da medicina para o público. Por exemplo, não havia telenovela que que não mostrasse uma unidade de cuidados intensivos com muitos tubos escorrendo para as veias do paciente e aparelhos com luzes a piscandp e sinais sonoros quebrando o silêncio dum quarto. Não quero desvalorizar os hospitais e a sua tenologia, agora tendo a sua importância decisiva no tratamento dos doentes graves desta pandemia – contam-se a todo o momento quantas camas existem nos cuidados intensivos de cada hospital do país.  Mesmo nesta excecional situação pandémica, sabemos que a “saúde pública” é essencial para detetar as cadeias de contágio e assim impedir que os contágios se expandam. E não podemos esquecer igualmente que a maioria dos infetados que, felizmente, necessitam de internamento e são acompanhados nas enfermarias e ainda mais nos seus domicílios, pelos médicos dos cuidados primários sempre esquecidos pelos meios de informação.

Ora, os Centros de Saúde com os médicos de família, sairão desta pandemia completamente alterados e com a sua estrutura desfeita – perdem a sua independência e a relação médico/paciente praticamente esquecida. O cerne da Medicina de Familia é precisamente esta relação marcada por uma relação de afeto e pela integração do paciente no seu meio familiar e social. Trata-se duma consequência da situação que estamos vivendo de que pouco se fala mas que trará muitos dissabores na pós pandemia, aos médicos e à população ferida por outras consequências como pobreza, desemprego e “Lutos” da perda de entes queridos. Teremos uma imensidão de pessoas alteradas na sua maneira de ser e de encarar a vida, pessoas deprimidas, com conflitos familiares saídos dos longos períodos de confinamento a necessitarem mais do que nunca de médicos que os ouçam e os ajudem a ultrapassar tantos traumas. Teremos jovens e velhos igualmente alterados psiquicamente pelas consequências dos isolamentos, do uso continuado de máscaras e dum afastamento dos “outros” olhados como potenciais portadores de doença. E não podemos esquecer que teremos médicos igualmente perturbados pelas mesmas razões e pelo cansaço dum período tão longo e tão intenso, lidando com a vida dos seus pacientes.

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E não esqueçamos que esta situação se vai manter ainda por tempo indeterminado pois os efeitos protetores das vacinas se sentirão  apenas lá para 2022 – até lá quantos lutos e quantos problemas de saúde e sociais ! Entraremos num período que necessita essencialmente dos “cuidados Primários de Saúde” e dos verdadeiros “Médicos de Família”

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