A vitória esmagadora de Marcelo Rebelo de Sousa significa sem sombra de dúvidas que o povo deseja estabilidade política e acredita que o comportamento do nosso Presidente da República, para alem da sua maneira de ser afetuosa, foi ,no seu primeiro mandato, o verdadeiro garante dessa estabilidade pelas boas relações com o Chefe do Governo. E o povo demonstrou esse desejo acorrendo às urnas apesar do ambiente pandémico e do mau tempo. Quem afirmava que a abstenção ia ser tremenda enganou-se radicalmente – o povo veio ás irnas com entusiasmo e querendo manifestar as suas opiniões. E assim Marcelo reforça a sua legitimidade e a sua capacidade de intervenção, que ele no seu discurso de vitória da a entender que compreendeu e promete que “o cheque que lhe estavam a dar não era um cheque em branco.
Mas o povo ainda queria manifestar uma outra opinião não menos importante – mesmo no meio do pandemónio provocado pela pandemia queria manifestar um propósito mais profundo ; o seu descontentamento com o sistema social e político em que vivemos. O povo perdia a sua ligação aos partidos políticos e nem PS, PCP, PSD ou Bloco de esquerda respondiam aos seus mal estares e muito menos a extrema esquerda, a extrema direita ou o partido liberal. O povo assimilou o discurso anti sistema de André Ventura que soava aos seus ouvidos como um grito de mudança num sistema que excluía as suas franjas, que aumentava constantemente o fosso entre ricos e pobres, um sistema que não ouvia o grito desses pobres. Só assim se compreende que Ventura substitua o Partido Comunista nas terras do Alentejo – gente aliás habituada a um discurso de opinião única. É nosso entender que o povo alentejano não foi seduzido pelos princípios da extrema direita mas apenas pelo discurso que apela a mudanças radicais.
Assim se compreende melhor que a abstenção não tenha ganho as eleições como muitos previam. O povo falou e disse que desejava a tranquilidade política que Marcelo prometia e a possibilidade de mudança do sistema que só Ventura proclamava nos seus inflamados discursos. Não sei como tudo isto vai evoluir, primeiro porque a pandemia não dá descanso e segundo porque também não é Ventura que poderá mudar o sistema a contento do povo, antes pelo contrário. Já temos aqui nesta coluna de opinião falado nesta necessidade duma mudança radical que, como nos diz há muito tempo o Papa Francisco, dê origem a uma sociedade fraterna com o povo no centro e o bem comum como incentivo. Veremos como tudo isto vai evoluir mas não é Ventura que conduzirá tal mudança – está tudo muito nebuloso à nossa volta. Necessitam-se homens que amem a liberdade e respeitem a dignidade da pessoa humana !
