A organização da vida social dos povos tem sido uma longa caminhada através dos últimos séculos levando progressivamente em consideração a dignidade da pessoa humana e respeitando esse conceito tão regateado que é a liberdade.
Pelo caminho assim trilhado foram imensas as vítimas que foram ficando pelo caminho pelas reações dos ditadores e dos cabeças dos grandes impérios. A liberdade nas suas variadas modalidades (de reunião, de opção religiosa e política, de expressão nas suas múltiplas formas) e o respeito pala dignidade humana, tudo tendo por base a fraternidade e o apoio dos mais débeis e doentes, provocaram guerras, revoluções, assassínios e traições. A conquista do que chamamos democracia foi penosa e difícil tendo por isso de ser – tudo o que se conquistou – defendido pois essa liberdade ainda incomoda muita gente mesmo nos nossos tempos.
Neste mundo já ameaçado pela revolta da natureza, incomodada com os excessos como tem sido tratada e explorada pelos homens – estamos pensando nos problemas ecológicos que ameaçam a habitabilidade do planeta, e pelos flagelos das doenças como a pandemia que nos assola matando e desorganizando toda a via social – eis que se torna evidente uma grave ameaça ao nosso sistema democrático tão penosamente obtido.
Para quem duvide de que estamos sob uma ameaça real contra a democracia, quem se esqueça que a alma ,por exemplo, da União Europeia, está ameaçada por políticos como Orban, para quem deixe passar ao lado a deriva totalitária de pessoas como Le Pen ou o nosso recente “Chega”, ou quem não entenda que ,por exemplo, entre nós, vivemos mais uma partidocracia com os seus “ditadorezinhos” do que uma verdadeira democracia onde não reine o poder das influências, seja dos tais “ditadorezinhos” ou do grande poder económico. Quem tenha estado assim cego aí tem esse 3espetáculo inesquecível da invasão do Capitólio, sempre considerado o expoente máximo da DEMOCRACIA americana igualmente conquistada com uma guerra civil, invadido por uma multidão ululante de energúmenos !
Foi um espetáculo esclarecedor de como muita gente nos nossos dias ainda não interiorizou o valor da Liberdade com o respeito por aqueles que têm opiniões diferentes das nossas, como muita gente não erradicou da sua mente o “vírus” do poder ,seja político ou do dinheiro – do deus mercado.
É curioso como ao ver aquelas cenas “aterradoras” me lembrei que à alguns anos D. Manuel Martins, numa das suas viagens, me enviou um postal com a vista aeria da estátua da Liberdade, em Nova Yorque, com a seguinte frase escrita pelo seu punho, no verso do postal: “Só agora descobri que, afinal, isolaram a Liberdade…”
