O socialista diz que a coligação agradeceu mas declinou “convite”. Antevê um mandato mais “quente” e lamenta o caso da Baixa de Banheira

António Duro antevê um segundo mandato na presidência da Assembleia Municipal mais “quente”, face à nova correlação de forças existente no órgão deliberativo. O socialista admite ter mantido contactos com as forças da oposição, deixa críticas à liderança concelhia do PSD e revela que a CDU só não integrou a Mesa da Assembleia Municipal porque não quis.
Lamenta o comportamento da Secção do PS e dos eleitos socialistas à Assembleia da União das Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira e espera ver as comissões permanentes da Assembleia Municipal mais ativas neste mandato.

Espera um mandato mais difícil ou mais fácil em relação ao anterior que, em certos momentos, foi atribulado?
O mandato anterior foi atribulado basicamente pelo comportamento de algumas pessoas do público, quase sempre as mesmas, ao fim e ao cabo duas ou três que monopolizaram um pouco os tempos do público e extremaram um pouco posições a partir de reivindicações pessoais. O comportamento das bancadas foi exemplar, não houve conflitos. Houve por vezes trocas de galhardetes que, enfim, são naturais, mas nada de especial, houve respeito, houve debate e funcionou muito bem.

E agora espera diferente com esta nova correlação de forças?
Agora, espero que continue a prevalecer o civismo, o bom senso, mas estou ciente de que, deixando de ser um debate basicamente a dois para passar a ser a três – porque são três os partidos com maior representatividade na Assembleia Municipal –, as sessões serão necessariamente um pouco mais quentes.

Deixou de fora o BE, com quem o PS no mandato anterior terá feito um acordo para chegar à presidência do órgão.
Referi os três partidos com maior representatividade, mas há também o PSD com dois membros e o BE com um. Não deixei de fora, aliás, tive uma conversa com o deputado eleito do BE, que tinha feito parte da mesa anterior, como primeiro secretário, e chegámos à conclusão que ele, estando sozinho, precisará de estar na bancada para intervir, que não faz sentido estar na mesa…

E também falou com alguém do PSD?
Não. Não falámos com o PSD, porque não gostámos da campanha agressiva que o PSD fez, mesmo no campo da injúria pessoal e, portanto, entendemos que não havia condições para conversar com a liderança do PSD.

O PS fez algum acordo com a CDU para conseguir a presidência do órgão deliberativo? Algum acordo que englobasse a viabilização da Mesa da Assembleia de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira à CDU?
Sei que houve conversas informais. Posso dizer que eu, em termos individuais, sondei a possibilidade da CDU poder fazer parte da Mesa da Assembleia Municipal. A CDU agradeceu a atenção, mas disse que não poderia aceitar, que queria fazer o seu caminho livre na oposição sem quaisquer condicionalismos.

Que leitura faz sobre o processo da eleição da Mesa da Assembleia de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, já que o PS como que entregou a presidência ao Chega?
Estive lá, vi como tudo se passou, e tenho de lamentar. Há uma coisa que é verdade: é que o Secretariado e o presidente da Comissão Política Concelhia tinham falado com os líderes da bancada e da Secção do PS e até com cada membro da bancada individualmente. E eles sabiam o que estava em jogo. Perderam, tinham de ter a humildade de fazer agora o seu papel na oposição. Isto foi aquilo que a Concelhia tinha decidido. Eles tinham essas instruções.

E não foram respeitadas quando o PS apresentou a lista candidata à mesa…
… Exatamente. Quando vi o PS apresentar a lista, fiquei muito preocupado e, aliás, isso acabou por ter um desfecho preocupante. O PS apresentou lista e, repare, que logo à primeira votação, se não houvesse um membro do PS a ter votado na lista da CDU, o Chega teria ganhado logo ali, porque o Chega, sabia-se, tinha um acordo com o PSD, tinham sete votos. O PS tinha seis e a CDU seis. Ou havia uma conjugação de interesses, para a mesa ficar nas forças do campo democrático, como nós entendemos, sem ofensa para ninguém, ou, naturalmente, o Chega ganharia a mesa.

Logo, não faria sentido apresentar lista. É isso?
Não faria sentido apresentar lista. Era o que estava definido e, portanto, eles foram contra o interesse concelhio. Não podiam ver meramente o interesse local e isolado. Foi uma decisão muito errada e à revelia do interesse coletivo do PS no concelho.

Por parte da Secção e da líder da bancada?
Por parte da Secção, da líder da bancada e por parte da número dois, também da bancada, que foi quem apresentou a lista e quem propôs candidatar-se a presidente da Assembleia de Freguesia. Foi quem apresentou a lista, não cumprindo as diretrizes da Concelhia. E ela tem uma agravante: pertence ao Secretariado da Federação Distrital de Setúbal do PS. Portanto, tenho a lamentar tudo isto.

O que terá para apresentar à Assembleia Municipal neste novo mandato, depois de, no anterior, ter introduzido os tempos de intervenção para as bancadas ou a criação da Assembleia Municipal Jovem?
E também passámos a celebrar as sessões solenes do 25 de abril, que não existiam no nosso concelho, em que juntámos a política à cultura e onde todos os partidos passaram a ter uso da palavra, para evocar o momento e a história, que é o mais importante de tudo.
Houve algo que não correu como eu gostaria no mandato anterior, que foi a pouca atividade das comissões permanentes da Assembleia Municipal. Houve basicamente duas comissões que de alguma forma funcionaram, a da Educação, Cultura, Juventude, Cidadania, e a do Ambiente. Infelizmente as outras comissões, que eram coordenadas por pessoas do PS, não reuniram, não tiveram qualquer atividade, e o que pretendo agora é que haja comissões permanentes ativas.