Autarca denuncia atrasos no São Bernardo, confessa “cansaço da narrativa comunista”, assegura apoio ao Vitória FC e revela preferência nas presidenciais
A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, deixa críticas à forma como está a ser gerida a saúde na região, defendendo que o sistema de urgências “não pode continuar nesta situação”. Em entrevista à Rádio Observador, a autarca afirma estar em desacordo com a criação da Urgência Regional e apela a um diálogo mais profundo entre o Governo e os profissionais de saúde. No programa ‘Comissão de Inquérito’, a edil sadina abordou ainda temas como a habitação, o Vitória FC e revelou motivo da saída do PCP, além de ter ’levantado o véu’ sobre a preferência para as próximas eleições presidenciais.
“Não estou lá muito de acordo com a criação da Urgência Regional. Acho que não vai resultar. É preciso uma grande revisão relativamente ao funcionamento das urgências. Não podemos continuar com esta situação”, afirmou. Para Dores Meira, a solução passa por ouvir mais os médicos. “Tem de se fazer um grande diálogo com os médicos. Pode ser que eles tenham, com certeza, ideias para se resolver. É preciso ouvi-los mais, é preciso dialogar mais, até à exaustão.”
A autarca mostrou-se preocupada com o impacto das falhas no serviço. “Não podemos olhar para a televisão ou ir às urgências e dizer hoje está fechado o Hospital de São Bernardo, amanhã estão fechadas outras urgências. O diálogo da ministra da Saúde com os médicos não tem sido suficiente”, criticou.
Segundo Dores Meira, o município tem procurado intervir junto do Governo para resolver os problemas do Hospital de São Bernardo, cuja segunda fase está atrasada “um ano e tal”. “Já pedimos reuniões com o Ministério da Saúde relativamente ao funcionamento de São Bernardo e ao atraso da construção da segunda fase. Já devia estar a funcionar há muito tempo, o que ia ajudar também a desbloquear a questão das urgências”, sublinhou, garantindo que a autarquia está “disponível” para falar com a ministra, ou “com quem ela entender”, para ver de que forma pode o município ajudar.
“Estagnação” partidária levou à saída
Sobre a desfiliação do PCP, Dores Meira afirmou que deixou o partido por “cansaço da narrativa comunista” e por sentir “estagnação” nesta força partidária, tanto a nível das questões nacionais como internacionais. A líder da autarquia recordou que aderiu ao PCP a 1 de janeiro de 1976, mas decidiu sair por divergências internas.
“Saí do PCP porque estava muito cansada da narrativa comunista. Considero que é dentro dos partidos que se devem colocar as questões. Eu coloquei muitas vezes as questões com as quais não estava de acordo e não vi alterações”, afirmou.
A autarca acrescentou que o afastamento se deveu também à “forma de verem o mundo” e ao “modo como as questões internacionais são tratadas”. “A coisa foi andando e depois, quando se passa a ser individualmente maltratada, nós dizemos que temos de pôr um ponto final nisto”, explicou.
Já na área da habitação, Dores Meira considerou a situação em Setúbal “aflitiva”. “Temos sete mil casas de habitação pública. Os projetos que temos estão virados para a requalificação, com investimento do PRR, mas está muito atrasada a reabilitação dos bairros”, referiu, realçando o objetivo de “construir cerca de mil novas casas”.
Da “má gestão” do passado ao apoio no futuro
Olhando para o panorama desportivo, a recém eleita presidente destacou o papel do Vitória Futebol Clube na identidade da cidade. “Felizmente Setúbal ama muito o seu clube. É um clube que deu tanta glória a Setúbal e a Portugal”, afirmou. Dores Meira lamentou “a situação em que está o Vitória”, apontando “muita má gestão” no passado. Ainda assim, garantiu que do que depender da Câmara de Setúbal, tudo será feito para apoiar o clube sadino.
Sobre o voto nas próximas eleições presidenciais, Dores Meira não quis responder de forma direta, mas quando questionada se negaria o facto de se preparar para votar em Luís Marques Mendes, a autarca independente, que venceu com apoio do PSD e do CDS, afirmou que não.