Acontecimentos e reuniões internacionais faziam grandes manchetes nos órgãos de informação nestes últimos dias – uma reunião dos G20 no Japão e grande afã de reuniões em Bruxelas para se encontrarem os nomes (e as orientações políticas) dos novos políticos que devem conduzir os destinos da União Europeia. Da reunião dos chefes de estado dos vinte países mais ricos e poderosos do mundo pouco se soube de possíveis acordos que ultrapassem os problemas do poder militar no mundo e os problemas decorrentes das trocas comerciais. E no entanto o mundo em que vivemos atualmente está numa grande instabilidade com embriões de possíveis guerras e com ensaios de armas cada vez mais sofisticadas e destrutivas. Que das notícias se tivesse vislumbrado soluções para as diferenças socio-económicas abismais entre países, para a solução de guerras em zonas onde de facto se vive com a vida em risco constante, ou alguma pista para resolver os problemas causadores de enormes fluxos de fugitivos à procura de paz ,nada consta .Apenas o problema do poder, a salvaguarda do sistema capitalista em que vivem a maioria dos países e nem um “pingo” de preocupação para solucionar o abismo para onde caminhamos com o aquecimento global, as agressões à “mãe terra” e os avanços tecnológicos e científicos que nada nem ninguém garante que não sejam utilizados para continuar a destruição da habitabilidade do nosso planeta. Do afã das reuniões de Bruxelas não saiu nenhum “fumo branco” anunciando acordos essenciais para a estabilidade e o progresso da velha Europa, também sofrendo os mesmos problemas ecológicos, a mesma tragédia dos fluxos de fugitivos que nem o número arrepiante de mortes afogados ou retidos em condições degradantes, comove os políticos. E para alem destes problemas candentes que necessitam soluções urgentes, assistimos a uma banalização da corrupção atingindo todas as classes sociais. Diz-se que a civilização em que vivemos, tem uma base judeo-cristã, e é fácil deduzir que a Boa Nova que Jesus veio viver para nosso exemplo não tem tido capacidade para se opor à evolução que nos trouxe até à situação em que nos encontramos . E na realidade os cristãos foram-se espalhando qual mancha de óleo pelo mundo ocidental e depois deram o salto para o resto do mundo. Só que a partir da conversão do Imperador romano Constantino, a Igreja entrou num milénio negro onde campeava também a corrupção, o individualismo, a centrifugação para as margens da sociedade dos pobres e dos excluídos , organizando-se hierarquicamente, onde os pastores se afastaram dos seus rebanhos, onde os pobres eram zero e a hierarquia se rodeou de características imperiais. E esta situação, com as alterações inerentes às correntes organizativas da sociedade, durou mais de um milénio, até ao Concílio Vaticano II em boa hora convocado por João XXIII. Dele se colocou no centro, não a hierarquia mas o povo de Deus, mas na prática a situação não teve uma mudança evidente. Condenavam-se teólogos que refletiam sobre a Igreja tentando dar voz a todos os componentes do povo de Deus, teorizando sobre noções como céu, inferno, ressurreição, origem do ser humano, etc. É verdade que os Papas desde Leão XIII foram teorizando sobre os problemas sociais , sobre a dignidade do ser humano e do trabalho, mas orientações como a Teologia da Libertação e muitos casos de tentativas de solidariedade com os pobres, foram condenadas ou passavam ao lado da hierarquia da generalidade das dioceses – a indiferença e a inercia são muitas vezes uma arma terrível para aniquilar as tentativas de mudança. Presentemente, com o Papa Francisco passa-se algo semelhante – o Papa fala e conduz-se no seu dia a dia com simplicidade, mas será que não devíamos já ver outras alterações levando em conta o povo de Deus? De vez em quando sonho com a democraticidade nas paróquias elegendo os seus representantes para um “Assembleia Diocesana” trabalhando com o seu Bispo. Numa recente cerimónia. o Papa dizia a umas dezenas de Arcebispos que deviam ser “testemunhas de vida, testemunhas de perdão e testemunhas de Jesus” que sempre disse que os que se sentam na primeira fila serão ultrapassados pelos que timidamente se sentam na última. Bergoglio diz que a Igreja deve ser como um hospital de campanha que se monta e desmonta e se muda de lugar quando for necessário – isto significa que obras de fachada, de pedra e cal, não são a nossa prioridade. O tempo das catedrais passou. É evidente que nós cristãos temos muito que interiorizar bem a Boa Nova de Jesus – e assim talvez possamos influenciar e contribuir para a mudança que se impõe! O Povo de Deus em marcha!