A peça da sua vida, entre aulas e ensaios
O teatro sempre fez parte do Instituto Politécnico de Setúbal, mas foi com José Gil, 71 anos, que tudo mudou, fazendo de um grupo uma companhia, que conquistou o seu espaço na Escola Superior de Educação. Entrou no ano 2000 como professor adjunto por concurso, dando aulas a quase todos os cursos, desde animação a educação básica, onde esta vertente artística é importante “no contar das histórias”, nas peças infantis e musicais, como competências para os futuros educadores. O seu percurso académico começou no conservatório em 1974, depois seguiu a Licenciatura em Teatro e Educação no Instituto Politécnico de Lisboa em 1991 e tirou o doutoramento na área de Ciências Humanas e Sociais, pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Destaca a relevância do teatro universitário, “uma grande tradição em Portugal” que permitiu a criação de muitas companhias como, por exemplo, o grupo “cornucópia” que surgiu na Universidade de Letras. Foi há 12 anos que se oficializou o espaço que hoje acolhe pessoas de diferentes idades, desde “alunos, professores e reformados”, fundado por José Gil e José Duarte Caldeira, com o apoio de outros elementos, como Luís Souta e Ana Pessoa. “É uma experiência única” e muito positiva para todos, como o mesmo aponta, que projeta a escola e o IPS a ser reconhecidos como “um espaço artístico” que marca os jovens “como espetadores e atores”, havendo salas cheias e muitos espetáculos. O processo criativo e formação passa pela escolha da peça, distribuição das personagens e ensaios semanalmente. Questionado sobre a mais significativa, destaca a “Medeia”, peça grega muito antiga, “feita com muito amor e com muita consideração”, apresentada ao ar livre, na zona emblemática do Sobreiro. Ao longo dos anos, a “ESE foi a minha casa” e uma espécie de família que o motivou a continuar e, por isso, escolhe a palavra “comodidade” para a descrever, “é uma escola artística” na sua construção distinta, feita pelo Siza Vieira, e na sua essência com preocupação pela arte e pessoas. Natural do algarve, José Gil vive em lisboa já há vários anos e descreve-se como “cómodo”, “artista”, “criador” e “simpático”, dando mais atenção, agora reformado, à sua família e às criações que ainda quer participar ou desenvolver. Aos estudantes “deixo a mensagem do teatro” e o legado “do grupo que dirigi”. Reflete que “a parte artística é muito delicada” e precisa de mais apoio do IPS, sendo o grande sonho a criação de uma sala de espetáculos “com muitos lugares”. Como balanço, realça que o “teatro em Portugal melhorou muito” e o seu grande foco e estudo vai ser sempre o público, “é para quem nós trabalhamos” e conquistamos diariamente.