Na nossa História, desde que D. Afonso Henriques, depois de destronar a mãe e de ser reconhecido pelo Papa como Rei de Portugal, houve vários sobressaltos que obrigaram a momentos de restauração, para que os portugueses se governassem a si próprios. É evidente que a data que se destacou foi aquela em que se expulsou a dinastia dos Filipes (três reinados) que assumiram a governação por problemas dinásticos devido a casamentos entre a fidalguia. Mas o sentimento entre os povos, durante gerações, a que chamamos patriotismo, gera uma intolerância à governação por gente com sangue diferente do nosso – nosso há centenas de anos. Por isso as festividades do passado Domingo são das mais legitimas: “correr” com a dinastia dos Filipes e defender a nossa lusitanidade, mesmo com recurso às armas – o que devemos a Nuno Alvares Pereira que derrotou os exércitos dos Filipes na batalha de Aljubarrota com o seu famoso quadrado (e uma ajudinha dos ingleses). E assim fica a Restauração da nossa portugalidade. Invadidos por várias vezes pelas tropas de Napoleão levámos tempo a restaurar a nossa portugalidade com “sangue, suor e lágrimas” (uma ajudinha dos ingleses). A restauração foi difícil.
E houve lutas entre as novas correntes liberais e os agarrados às tradições ancestrais. A restauração dos liberais necessitou da ajuda do D. Pedro, que estava governando o Brasil. Uma vez declarada a República, a nossa vida política entra num marasmo de revoluções, e a restauração de um ambiente de paz é conseguida com uma ditadura nas mãos firmes de Salazar e Caetano. Quarenta anos de ditadura, de polícia política, prisões e deportações. Só em 25 de Abril de 1974 se restaura a nossa liberdade. Uma verdadeira restauração, de que estamos comemorando os cinquenta anos. Podemos dizer com propriedade que foi uma verdadeira restauração que, com alguma turbulência, nos trouxe o processo democrático até à actualidade.
Tal como em Portugal, por todos, ou quase todos, os países do mundo muitas e graves coisas se iam passando, levando às mudanças e às respectivas restaurações que levaram os povos a viverem como desejavam e em paz. Mas tal não acontecia com facilidade e o mundo actual está enredado em ódios, ameaças, guerras a sério e muitas mortes nos quatro cantos do mundo. Reuniões e mais reuniões, ameaças e mais ameaças, guerras à seria por todos os lados, mostram-se armas cada vez mais poderosas e mortíferas, e, de quando em quando, ouve-se falar de paz! Para animar os espíritos, porque é assunto em que ninguém hoje acredita
Restauração da paz neste mundo em que vivemos parece-nos coisa impossível.
Restaurar é consertar, é reparar, é pôr no são.
Mas para a paz não temos mais restaurações!