Ao aproximar-se o fim deste ano vai dar-se início à segunda parte do sínodo convocado pelo Papa Francisco com real intenção de transformação da Igreja Católica, que, para a resumir, chamou-lhe “revolução da ternura”.
No entanto, aqui pela nossa diocese, pouco ou nada se sentiu desta revolução. Tomámos conhecimento dum texto que resumiria essa consulta generalizada ao povo de Deus, consulta que pouco se sentiu ou se ouviu. Noutros países da Europa e do mundo as coisas correram de maneira diferente e nessa primeira parte do sínodo houve mesas redondas com bispos, leigos e leigas.
As conclusões dessa primeira parte foram de novo distribuídas por todos os países para serem novamente analisadas e discutidas pelo conjunto da Igreja (bispos, possivelmente até cardeais, teólogos e teólogas e simples cristãos). De novo, entre nós, pouco ou nada se ouve sobre esse assunto. E a realidade é que a Igreja necessita de ser modificada, modernizada e “ descascada“ de tantos princípios, regras, proibições, etc., existentes há séculos.
Curiosamente, depois do cónego João Alves ter preparado a região de Setúbal para se tornar diocese, o jornal da Igreja, ‘Notícias de Setúbal’, publicava, em 1973, o seguinte artigo de fundo, escrito pelo seu diretor e intitulado: “Ser Bispo, hoje“.
“Não será tarefa fácil exercer o ministério episcopal na Igreja atual. Assumir responsabilidades dentro de uma instituição em crise significa colocar-se numa posição bastante incómoda onde as opções que foram feitas suscitarão inevitáveis contestações, tanto de uns, que nelas verão infidelidade, como de outros, que as classificarão de medo e cobardia.
A Igreja encontra-se em transformação, em crise, impõe-se reconhecê-lo. Os bispos, que têm por missão animar e coordenar a ação dos indivíduos e grupos cristãos, numa perspetiva evangélica e missionária, deparam-se com problemas de difícil solução: eles não são senhores absolutos, que governem independentemente da comunidade. Eles não são os administradores duma instituição com exclusivo direito deliberativo. A natureza e a estrutura da Igreja, à luz do Evangelho, não permite uma tal conceção. Os que maior responsabilidade têm na Igreja deverão ser como servidores e não como senhores. À luz do Evangelho, a autoridade é serviço. A Igreja é, antes de mais, comunidade e povo de Deus, sendo a sua organização hierárquica um meio de criar ambiente e estruturas para a vivência e testemunho do Evangelho.
Mas, a Igreja ao longo dos séculos foi assinalando certas estruturas sócio-políticas do poder civil. A autoridade deixou de ser exercida como o Evangelho sugeria, a Igreja adotou um estilo de autoridade absoluta e centralizada.”
Já anteriormente, após o Concílio Vaticano Segundo, aqui entre nós, apesar de esse concílio ter durado três anos, apenas a missa passou a ser celebrada em português em vez de latim. De toda a doutrina desse concílio pouco ou nada se sentiu em Portugal.
Parece não haver dúvidas de que a Igreja, entre nós, é e continua a ser resistente à modernidade e a um cristianismo à maneira de Francisco.