Um congresso de que nunca ouvi falar, que tem por objectivo, pela acção duma psicóloga (portanto, por meio duma acção terapêutica), mudar o sentido “de género” duma pessoa. Este congresso tem na organização como segundo elemento um sacerdote católico. Trata-se dum verdadeiro congresso amplamente anunciado na TV. É evidente que tal acção terapêutica não tem qualquer base ou sustentáculo científico.
Como temos verificado, os problemas relacionados com o sexo, têm desde há muitos séculos, sido um grave problema para a Igreja Católica. A mulher durante séculos foi muito “mal tratada” na nossa Igreja. Daí o celibato dos sacerdotes, uma relação muito estreita da mulher com a noção de pecado e o problema da virgindade – tudo com explicações hoje fora do contexto científico e até teológico.
Toda esta problemática veio para as primeiras páginas dos jornais e para as primeiras notícias dos telejornais, mais recentemente, com os abusos sexuais atribuídos a sacerdotes ou pessoas relacionadas com a vida da Igreja – por todo o mundo católico e, claro, também entre nós portugueses.
E assistimos, com o apoio débil da hierarquia da Igreja, à criação de comissões de investigação constituídas por técnicos credíveis que criaram linhas de contato e fizeram inquéritos minuciosos e profundos sobre os tais abusos nas últimas décadas. A Conferencia Episcopal Portuguesa deu o seu aval e colaboração, havendo bispos mais renitentes e outros mais abertos a que tal assunto fosse plenamente esclarecido.
Ora, é neste ambiente, caminhando para um sentido de normalidade (embora ainda com problemas pendentes) que tomei conhecimento da realização em Fátima do tal Congresso onde se havia estabelecido em essa tal unidade de “tratamentos”(!).
Estamos numa democracia onde a liberdade até se vai festejar, pela conquista há 50 anos. Parece-nos pouco próprio a escolha dum local com “espesso” ambiente religioso, como o melhor local para tal “organização de tratamento”, mas, liberdade é liberdade e, por isso, mesmo sendo um cristão que já escreveu mais de um milhar de artigos em jornais variados, de índole religiosa, o que me choca e sinceramente acho inadmissível é que o anúncio de tal hipotético tratamento seja anunciado no próprio “site” da Diocese de Leiria/Fátima.
Tal facto é inaceitável e profundamente prejudicial para uma Igreja que está sofrendo uma profunda transformação e renovação. Já não falo da localização em Fátima – local com uma densidade sagrada especial -, mas o anúncio no “site” da diocese. Ou é desleixo, ou ignorância, ou um golpe severo na credibilidade desta nossa Igreja a caminho duma verdadeira revolução da ternura.
O assunto despertou, como é natural, o interesse dos jornalistas à procura de temas que deem audiências. E começa a ser posto em destaque que se ia fazer uma entrevista a D. Américo Aguiar, o recém nomeado Bispo de Setúbal.
Apreciei a habilidade com que o nosso bispo, Américo Aguiar, respondeu a este problema quando lhe foi colocado por um entrevistador agressivo e que lhe queria “arrancar” uma opinião sobre o tal assunto
A liberdade de expressão foi para ele uma arma preciosa e usada com maestria pelo nosso bispo. Apreciei
Mas não posso deixar em claro o inapropriado da localização do tal congresso e, particularmente, o anúncio no site da diocese que assim dá o seu aval a um assunto – polémico é certo – mas totalmente falso cientificamente e, até, proibido pela nossa legislação.
Ao cuidado do Senhor D. José Ornelas, presidente do Conferencia Episcopal Portuguesa.