27 Abril 2024, Sábado
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Início168º aniversárioAs crianças e jovens são agentes culturais do presente

As crianças e jovens são agentes culturais do presente

Helena Sardinha Pereira: “As artes plásticas, a música, a dança, a história, o património são a nossa identidade e uma preciosa fonte de inspiração para conceber novos paradigmas de existência.”

 

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É-me difícil abordar a cultura sem falar de educação e de história, pois constituem uma tríade essencial para a compreensão de uma sociedade e para a formação de identidades individuais e colectivas. Através da cultura e da educação passamos às novas gerações a nossa história, as nossas experiências comuns, confrontamo-las com modos de vida e visões do mundo de outros povos e civilizações, permitindo–lhes que se conectem com a realidade circundante e com as suas raízes, que desenvolvam a empatia e entendam quem são e que sentido pretendem dar à sua vida. No entanto, hoje devemos ser mais do que meros consumidores de cultura. Cabe-nos, enquanto professores, autarcas, técnicos da cultura e pais o importante papel de formar as crianças e os jovens para serem agentes culturais do presente. É essencial confiar e proporcionar–lhes o espaço que necessitam e merecem para intervir de forma activa, responsável e esclarecida na sua comunidade através da participação e dinamização de projectos – artísticos, literários, científicos, associados ao património e, assim, preservarem, revitalizarem, transformarem o tecido local e desenvolverem um sentido de pertença e identidade cultural, olhando para si próprios como parte integrante de um legado histórico e construtores do seu devir.

Com estes objectivos em mente, criei em 2018, juntamente com as professoras Maria Filomena Veloso e Lina Heitor, do Agrupamento de Escolas de Casquilhos, no Barreiro, o projecto Caminhos (Com) Sentidos, ao qual se juntaram, mais tarde, as docentes Ana Milheiro, Eduarda Salgueiro, Fabiana Silva e Maria Helena Oliveira. Este projecto tem como foco a planificação de actividades culturais centradas nos alunos, realizadas com, por e para eles através do trabalho colaborativo entre docentes de diferentes áreas disciplinares e ciclos de ensino dos vários agrupamentos do concelho, a autarquia e os parceiros locais (museus, arquivos, associações culturais). Orientados pelo princípio de que no Barreiro há talento, é-lhes solicitado que investiguem, pensem, usem a imaginação e concretizem projectos inspirados no seu património e no diálogo intercultural.

Nesta óptica, promoveram-se actividades de preservação e revitalização da cultura no Barreiro, em grande parte patrocinadas pela câmara Municipal. Foram realizadas oficinas de dança renascentista e barroca para alunos e professores no Convento da Verderena e na escola. Em conjunto com os docentes de História do ensino secundário dos Casquilhos e dos outros agrupamentos do concelho efectuaram-se as Jornadas Pedagógicas de História Local –“Barreiro: passado, presente e futuro”, que juntaram autarcas, técnicos do Museu Industrial do Barreiro, do Espaço Memória e do Museu do Aljube, investigadores, a Associação de Professores de História, a Fundação Amélia de Mello e a Universidade da Terceira Idade. Os protagonistas do evento foram os estudantes que apresentaram os seus trabalhos de pesquisa sobre vários temas, desde a CUF até à guerra colonial, para a comunidade educativa do Barreiro ali presente. No próximo ano lectivo as jornadas serão dedicadas ao Barreiro do 25 de Abril.

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Um outro projecto iniciado em 2021 foram as Viagens ao Mundo da Música – concertos comentados que exploram diferentes géneros musicais, do jazz, às músicas do mundo e, em concreto, à Lusofonia. Este ano realizou-se também uma viagem ao mundo da dança. Esta actividade uniu profissionais, amadores e alunos, num espectáculo singular, que deu a oportunidade aos estudantes de poderem revelar os seus talentos, incentivando-os a desenvolvê-los.

Em 2021 realizou-se o I Concurso de Contos – Barreiro: passado, presente e futuro que contou com a participação de alunos da pré ao secundário, em articulação com os museus e arquivos locais. Esta iniciativa de escrita criativa e investigação histórica culminou na publicação de um livro de contos ilustrado pelos alunos e patrocinado pela autarquia e numa cerimónia que juntou toda a comunidade – alunos, docentes, famílias, autarcas e parceiros locais. Foi uma oportunidade de mergulhar na história do Barreiro, conectando os alunos com tradições, figuras curiosas e inspiradoras. Este ano, prosseguimos com o II Concurso de Contos, mas desta vez aberto a todos os agrupamentos do concelho.

Uma outra actividade cultural que vem ao encontro das dinâmicas já referidas são os Percursos no Tempo – roteiros histórico–literários criados e guiados pelos alunos nos espaços do Barreiro e Lisboa. Calcorreando ruas, observando monumentos e museus, associando-os a figuras e às suas histórias de vida, os alunos do secundário vão desvendando a história local para os seus colegas mais jovens do 4.º ao 9.º ano, num diálogo interdisciplinar.

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Outros projectos de articulação curricular foram sendo realizados sempre com o foco no saber fazer e saber ser, no trabalho cooperativo e na revitalização da cultura: as Conferências do Casino Casquilhense, bem como as Tertúlias no Convento da Verderena, dinamizadas com, por e para alunos num debate vivo sobre o sentido da arte, da religião, da cultura, da política e da história e a arte de entrevistar dirigida por alunos do secundário a vários escritores e investigadores sobre diversas temáticas urgentes e ainda silenciadas, nomeadamente a forma como foi sentida a guerra colonial na nossa terra por quem a viveu do lado de cá e do lado de lá.

As artes plásticas, a música, a dança, a história, o património são a nossa identidade e uma preciosa fonte de inspiração para conceber novos paradigmas de existência.

Investir na cultura e na educação é investir no futuro e na construção de uma sociedade mais justa, tolerante, criativa e sustentável, pois estimula a inovação, a capacidade empreendedora e o desenvolvimento de competências necessárias para uma participação activa na sociedade. A cultura enriquece o processo educacional, tornando-o mais envolvente, holístico e significativo. Uma educação de qualidade, que valorize a cultura, revitalize tradições em risco, promova a criatividade e o pensamento crítico, prepara os indivíduos para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.

Professora de História da Escola Secundária de Casquilhos, Barreiro

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