Vendedores de jornais e revistas respondem a distribuidora com bloqueio à venda de todas as publicações
A Vasp, empresa de distribuição de jornais e revistas, que tem monopólio em Portugal, notificou os cerca de seis mil postos de venda de que vão ser obrigados a pagar 1,50 euros por dia, num total de 49,32 por mês, a partir do dia 4 de Julho.
Na nota que fez chegar aos pontos de venda, e a que O SETUBALENSE teve acesso, a empresa justifica esta decisão com o facto do mercado das publicações periódicas, em Portugal, “ter vindo a sofrer uma quebra estrutural das suas vendas ao longo dos últimos anos devido à crescente digitalização dos conteúdos e à concorrência de novos meios digitais”.
A actual crise pandémica, pode ler-se, “veio agravar ainda mais essa tendência de quebra, tendo as vendas de publicações em banca caído mais de 20% nos últimos 12 meses”.
Depois de conhecida esta intenção da Vasp, a Associação Nacional de Vendedores de Imprensa (ANVI) pediu audiências aos ministérios da Cultura e da Economia,
sem que tivesse, até à presente data, sido confirmada a disponibilidade daquelas secretarias de Estado para reunir e “apoiar a situação de fragilidade dos pontos de venda”.
De acordo com a ANVI, “a par dos referidos pedidos de reunião”, a associação “entrou já em conversações com a Vasp para que suspenda de imediato a intenção de aplicar as referidas taxas adicionais sem que até ao momento tivesse recebido a confirmação por parte daquela empresa que aceitaria desistir da referida cobrança”.
Entre os proprietários dos pontos de venda, o ambiente é de grande preocupação e até de indignação. ”Dizem que foram prejudicados pela pandemia, e nós?” interroga-se Hugo Abade, dono de uma tabacaria e quiosque no Lavradio, Barreiro.
Este comerciante admite mesmo deixar de vender jornais e revistas no seu ponto de venda e explica porquê. “É inviável pagar 45 euros por mês. Nós ganhamos 10 cêntimos por cada jornal, ora os primeiros 15 vendidos seria para pagar à Vasp, não é possível”. Hugo Abade diz que a venda dos jornais é “um negócio secundário porque as margens são mínimas, por isso se esta situação não for revista vou deixar de vender jornais e revistas”.
Por aquilo que considera como “uma injustiça”, o empresário barreirense não tem dúvidas de que o protesto de bloqueio de venda de jornais, hoje e sábado, “terá um forte impacto nas pessoas a nível nacional e aqui na nossa região onde existem centenas de postos de venda”.
Manter a normal distribuição de jornais e revistas, diz a Vasp, só é possível com um esforço conjunto. “A manutenção da actual situação é insustentável e a única forma de acautelar a continuidade do fornecimento do serviço de distribuição de publicações, em todo o território nacional, de forma contínua e ininterrupta, promovendo a coesão social, cultural e territorial, obriga a um esforço conjunto, através da comparticipação pelos pontos de venda, nos custos de transporte, entrega e recolha de publicações”.