Programa eleitoral contempla reapreciação da localização do novo aeroporto. Mesmo que isso obrigue a uma renegociação da concessão. Distrital mantém-se fiel à solução para a Base Aérea n.º 6, ao contrário da concelhia do Montijo
O PSD defende, no programa eleitoral às legislativas, uma “reapreciação da solução Alcochete” para o novo aeroporto de Lisboa, que o Governo já escolheu ser no Montijo, nem que isso “obrigue a uma renegociação das condições contratuais da concessão”. A proposta é feita no programa eleitoral, que foi aprovado com 17 abstenções, na reunião do conselho nacional do partido que teve lugar em Guimarães, na passada terça-feira.
Para os social-democratas, “é prematuro afastar cenários”, como o de Campo de Tiro de Alcochete, que esteve em cima da mesa, e foi abandonado “sem se conhecer os estudos de impacte ambiental”.
As opções a tomar, lê-se no texto, “não dispensam um estudo aprofundado das diferentes soluções” e é por isso que o partido liderado por Rui Rio defende que “é razoável a reapreciação da solução Alcochete, mesmo que tal obrigue a uma renegociação das condições contratuais da concessão” do novo aeroporto.
A medida programática não merece a anuência do presidente da distrital de Setúbal do partido, Bruno Vitorino, que não deixa de reafirmar a posição “conhecida e pública” daquela estrutura social-democrata em relação à localização da infra-estrutura.
“A nossa posição é favorável à solução de um aeroporto complementar na Base Aérea do Montijo. Desconhecia que uma coisa dessas estava no programa e abstive-me na votação no conselho nacional”, atira o responsável, adiantando: “Temos discutido como devem ser potenciadas todas as questões que têm a ver com a localização do aeroporto no Montijo, como por exemplo as acessibilidades a outros concelhos, as medidas necessárias para minimização do ruído no Barreiro e na Moita, as preocupações ambientais, entre muitas outras. A nossa posição mantém-se.”
O social-democrata prefere não se alongar em comentários, já que entende que outros esclarecimentos devem ser prestados pelo cabeça-de-lista por Setúbal. “O melhor representante de Rui Rio para falar sobre o programa eleitoral do PSD é o cabeça-de-lista, pelo distrito, Nuno Carvalho”, considera.
Secção do Montijo aplaude
Pedro Vieira, presidente da Comissão Política da Secção do Montijo do PSD, adopta discurso diferente, manifestando-se favorável ao reequacionamento do processo. Até porque, defende, é imperioso que se parta de “um quadro de certeza para que não seja cometido qualquer erro” com consequências nefastas de futuro.
“Verifica-se que a solução Base Aérea n.º 6 serve muito pouco os interesses nacionais. Está projectada para efeitos minimalistas e, nesse sentido, todo o investimento que ali será feito deverá ser reapreciado. Trata-se de uma solução com bastantes limitações operacionais e ambientais, envolvendo os riscos hoje conhecidos”, afirma o social-democrata.
Além disso, para Pedro Vieira, agora que se conhece também o Estudo de Impacte Ambiental, importa fazer “uma análise custo-benefício, em termos económicos e de futuro, conjugada com as questões ambientais”.
“Mas mais relevante para o concelho é entender-se que a estratégia para o desenvolvimento do Montijo não pode basear-se no projecto de um aeroporto, que não depende nós”, acrescenta ainda o presidente da concelhia laranja, que já hoje contactou o O SETUBALENSE para adiantar que aquela estrutura local do PSD continua, contudo, a defender a Base Aérea n.º 6 como melhor localização.
Recorde-se que a solução Portela + 1 (Montijo) foi lançada precisamente pelo PSD, durante a legislatura que teve Pedro Passos Coelho como primeiro-ministro. O PS no Montijo – que até então se batia pela localização no Campo de Tiro de Alcochete, face à estratégia defendida no governo anterior de José Sócrates (PS) – só viria a aceitar sem reservas a solução de construção na Base Aérea já no reinado de António Costa (PS), quando o actual líder do Governo optou por dar seguimento à iniciativa dos social-democratas em detrimento do primeiro plano socialista.
Ou seja, se o PS já havia inflectido a posição em relação à solução para uma nova infra-estrutura aeroportuária, sobretudo no que concerne à localização, agora fica aberta a porta a uma nova inversão de papéis, com o PSD, na oposição, a encarar a possibilidade de reequacionar o Campo de Tiro de Alcochete como hipótese.
A ANA – Aeroportos de Portugal e o Estado assinaram em 8 de Janeiro o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o actual aeroporto de Lisboa (Humberto Delgado) e transformar a base aérea do Montijo no novo aeroporto de Lisboa.
Com Lusa