Provedor da Misericórdia de Canha vacinado contra a Covid-19 mas por “pressão” da equipa de enfermagem

Provedor da Misericórdia de Canha vacinado contra a Covid-19 mas por “pressão” da equipa de enfermagem

Provedor da Misericórdia de Canha vacinado contra a Covid-19 mas por “pressão” da equipa de enfermagem

José Rodrigues não queria ser vacinado mas o exercício de funções no meio do lar e a sobra de vacinas motivaram a decisão da equipa de enfermagem

Sobra de vacinas e inevitável contacto directo diário com utentes levou José Rodrigues e mais quatro mesários a aceitarem a toma

 

O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Canha, José Rodrigues, admite que também foi vacinado contra a Covid-19 no passado sábado. Ele e mais quatro membros da mesa administrativa. Mas, por “pressão” da própria equipa de enfermagem responsável pela administração das vacinas aos profissionais e utentes daquela instituição, face a um contexto de excepção.

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“O provedor não quis ser vacinado. Sujeitou-se às circunstâncias e às directivas que a Direcção-Geral da Saúde [DGS] trazia”, disse José Rodrigues a O SETUBALENSE.

Garante que o seu nome, bem como os dos outros quatro elementos da direcção, não constava na lista inicial do grupo a vacinar. E adianta: “Já estava tudo terminado, com praticamente as malinhas arrumadas, quando fomos vacinados.” A explicação é simples: “sobraram cinco seringas previamente preparadas” que não puderam ser administradas a utentes – por conselho médico – e José Rodrigues e os restantes membros desempenham “funções diárias” no meio de uma valência, onde “é inevitável o contacto directo com os residentes”. Os serviços administrativos estão dentro do próprio lar.

“Entendeu a equipa de enfermagem que eu e estas pessoas da mesa administrativa, que todos os dias estamos dentro desta ‘bolha’, na instituição, fazíamos parte do grupo prioritário. Embora a minha opinião não fosse essa”, frisou. “Desde o auxiliar de limpeza até ao provedor, todo o grupo de trabalho directo da instituição foi vacinado. Pressionaram-nos para sermos vacinados”, confirmou, antes de revelar aquele que foi principal argumento utilizado pela equipa responsável pela administração das vacinas. “Quem está todos os dias dentro daquela ‘bolha’, deve ser vacinado. Não faz sentido vacinar uns e não vacinar outros – esta foi a grande linha da pressão”, faz notar o provedor, ao mesmo tempo que questiona: “Como seria, se depois de ter sido pressionado, recusasse e, mais tarde, viesse a ficar infectado e acabasse por trazer o vírus cá para dentro?”

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José Rodrigues diz que acabou por aceitar ser inoculado “ao fim de uma hora de toda a gente estar vacinada”. Foi o último. “Depois de nos fazerem ver que não fazia sentido não vacinar todos os que estão diariamente a trabalhar no lar. E que as seringas estavam preparadas. Ou as doses eram administradas ou seriam para jogar fora.”

O provedor sabe que os grupos prioritários a vacinar até Fevereiro, nesta Fase 1, englobam apenas, no caso de Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI) e instituições similares, profissionais e residentes. De acordo com os critérios que determinam esses grupos, ficam sem ser abrangidos dirigentes das instituições, como provedores.

Mas considera que há casos que devem ser analisados de forma diferenciada, em função das circunstâncias. E dá um exemplo: “Como se pode negar vacinar alguém que foi requisitado à empresa onde trabalha para estar 15 dias a dar apoio a utentes, no interior desta instituição durante um surto com largas dezenas de infectados, como foi o caso do nosso vice-provedor?”

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José Rodrigues critica ainda o posicionamento de Francisco Ramos, coordenador da “task force” responsável pelo plano nacional de vacinação. “O indivíduo entende de outra forma porque desconhece a realidade das instituições. Não foi ele que esteve no meio de um surto, a limpar e a lavar”, atirou, embora admita que não deve haver lugar a oportunismos. “Se for um dirigente ausente, que assume um papel de faz de conta, não deve ser vacinado, não faz parte do grupo prioritário”, concluiu.

Vacinação na Santa Casa do Montijo gerou indignação

Os provedores das duas Misericórdias do concelho do Montijo acabaram assim por ser vacinados. Além de José Rodrigues, em Canha, também José Manuel Braço Forte, provedor da Santa Casa do Montijo, foi inoculado, juntamente com dois funcionários desta última instituição.

Ao contrário do que sucedeu em Canha, o processo na Misericórdia do Montijo suscitou indignação junto da respectiva equipa de enfermagem, por José Braço Forte não ter sido considerado como elemento que pudesse integrar o grupo prioritário de vacinação, conforme noticiou O SETUBALENSE na edição desta quarta-feira. O provedor, que logo de início foi incluído na lista de pessoas a vacinar, também defendeu que mantém contacto directo diário com os utentes. “Quando vou lá abaixo, vou ter com os utentes. Eu trabalho ali. Vou para lá às 9h30 e saio à tardinha. Há provedores que não andam lá dentro. Eu ando”, garantiu então José Braço Forte, que negou ainda que a esposa tivesse sido vacinada.

Em relação aos dois funcionários, o provedor explicou que foi adoptado o princípio do não desperdício. “Foram estas duas pessoas, porque sobraram duas doses. E a doutora escolheu a pessoa da manutenção – que é quem monta lá as camas e lá está também sempre em contacto com as pessoas – e uma outra, que faz os stocks, que anda lá dentro”, justificou.

 

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