Experiência com 80 doentes mostra que apoio ao domicilio evita as idas às urgências e às consultas e os internamentos
Um projecto pioneiro da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano (ULSLA), que monitoriza um conjunto de doentes crónicos no seu domicílio, conseguiu reduzir em cerca de 70% a afluência às urgências hospitalares.
“O objectivo é a estabilização clínica do doente, mantendo-o em casa, porque estamos a falar de pessoas com quatro ou cinco doenças crónicas, que circulam nos vários níveis de cuidados médicos”, explicou à agência Lusa Adelaide Belo, médica coordenadora do programa.
O programa de gestão de caso para doentes crónicos apoia 80 pacientes com doenças crónicas, entre os 52 os 80 anos, nos concelhos de Santiago do Cacém, Sines e Odemira e permitiu reduzir também os internamentos e as consultas médicas.
Para melhorar a qualidade de vida destes doentes e reorganizar os serviços, foram criadas equipas compostas por médicos de medicina geral e familiar, medicina interna, enfermeiros e assistentes sociais, que, em conjunto, gerem “a situação global” dos pacientes com visitas frequentes aos seus domicílios.
“Temos um paciente, de 80 anos, com nove doenças crónicas, que, num ano, foi 18 vezes ao serviço de urgência, esteve cinco vezes internado, fez 12 consultas com o médico de família e tem na sua lista à volta de 400 análises ao sangue e 200 aos rins. Não houve falta de assistência, mas não é esta a resposta que ele precisa”, exemplificou.
De acordo com Adelaide Belo, numa primeira fase do projeto, que arrancou em 2017, foi necessário “criar compromissos” e “insistir na aprendizagem” dos doentes e seus cuidadores que “tiveram de ser capacitados” e que “precisavam de algo organizado”.
“Aprenderam a tomar a medicação, perceberam que uma doença crónica não tem cura e quais os sinais de alerta para, quando se acende a ‘luz vermelha’, saberem ligar para o gestor de caso, que, no nosso programa, é o enfermeiro, o elo de ligação entre as equipas e os pacientes”, acrescentou.
O trabalho realizado permitiu “reduzir em 50% o internamento” de 45 doentes, monitorizados ao longo de seis meses.
Segundo Adelaide Belo, “os que não conseguem evitar o internamento nunca chegam tão descompensados”, em resultado do trabalho que é desenvolvido pelas equipas junto dos doentes e cuidadores nos seus domicílios”.
“Foi possível reduzir em 66% as idas ao serviço de urgência do Hospital do Litoral Alentejano, em Santiago do Cacém, mais de 70% ao Serviço de Urgência Básica (SUB) de Odemira e metade do internamento”, relatou.
A coordenadora do programa indicou que também foi reduzido o número de consultas ao médico de família (-50%) e de consultas hospitalares (-20%), em comparação com os 365 dias antes de terem entrado no projecto.
O programa, que permitiu ainda “uma poupança de 2.558 euros” por doente/ano, vai apostar, em 2019, na tele-monitorização com o objectivo de “alavancar” o número de doentes crónicos da região que podem vir a beneficiar.
Para que tal aconteça, Adelaide Belo disse que são necessários “mais enfermeiros”, o “reforço” das equipas e o alargamento do programa aos concelhos de Grândola e Alcácer do Sal, também no litoral alentejano.
Lusa