Novo plano de acção para o controlo da população de javali no Parque Natural da Arrábida prevê, entre outras medidas, a colocação de caixotes do lixo de material resistente para evitar que javalis desçam à praia em busca de restos de comida.
Por André Rosa
Doze caixotes do lixo de material resistente foram colocados ao longo da Praia do Creiro, no Parque Natural da Arrábida, para evitar que os javalis desçam ao areal em busca de comida. A operação foi feita pela Câmara Municipal de Setúbal ainda durante este mês de Agosto, em resposta a uma sinalização do Clube da Arrábida, e consta do plano de acção para o controlo da população de javali no Parque Natural da Arrábida.
Os caixotes do lixo colocados na praia (que permitem a separação por tipo de lixo) são feitos de um material plástico resistente e foram semi-enterrados para resistir a possíveis “ataques” de javalis. Nos últimos anos, e mesmo durante esta época balnear, tem sido comum ver varas de javalis a descer às praias do Portinho, Alpertuche e Galapos em busca de comida, sobretudo à noite, rasgando os sacos de plástico azuis dos caixotes do lixo convencionais e espalhando o lixo pela areia.
A colocação destes novos caixotes tem como objectivo “diminuir a disponibilidade de alimento” para os javalis e pressupõe a implementação de “uma rede de caixotes” e de um “sistema de recolha eficiente”. Esta medida consta do objectivo de “monitorizar e minimizar prejuízos, impactos reais e previsíveis” da presença dos javalis na Serra da Arrábida, conforme se lê no documento do Plano de Acção para o Controlo da População de Javali, Sus scrofa, no Parque Natural da Arrábida, a que o SETUBALENSE – DIÁRIO DA REGIÃO teve acesso.
Para o Clube da Arrábida – que subscreve o documento em conjunto com o Parque Natural da Arrábida (PNArr), Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), a Câmara Municipal de Setúbal (CMS) e outras entidades – a resposta do departamento de higiene e urbanismo da autarquia foi célere, tendo sido visível no terreno poucos dias após o envio de um email a alertar para o problema.
O javali, de morfologia muito semelhante ao porco doméstico, foi dado como extinto na região, mas há cerca de uma década retomou o habitat, “ocorrendo actualmente em praticamente todo o território nacional continental”, lê-se no documento. Trata-se de uma espécie omnívora, com uma dieta à base de frutos, raízes, bolbos, tubérculos, partes aéreas de plantas, larvas de insectos, pequenos vertebrados e que não despreza “lixos orgânicos caso se encontrem disponíveis”.
Por “não ter predadores naturais nem pressão cinegética [caça], bem como possuir uma grande capacidade de adaptação e de reprodução, a sua população tem aumentado de forma acentuada nos últimos cinco anos”, período no qual tem sido frequente avistar javalis nas praias do Portinho, Alpertuche e Galapos a recorrer aos caixotes do lixo – de recolha e avulso – por terem escassez de alimento no habitat natural, principalmente matas.
Pedro Vieira, engenheiro zootécnico e presidente do Clube da Arrábida, consegue facilmente identificar pegadas destes animais na areia junto às matas nas praias do Portinho e Creiro e reafirma a importância de haver medidas de controlo da população de javalis na serra. Essas medidas estão elencadas no plano cujo objectivo é definir “um conjunto de acções de gestão controlada, quer da espécie, quer do seu habitat, tendo sempre como referência os valores naturais existentes, nomeadamente a flora autóctone do PNArr”.
O plano envolve a colaboração da DGAV, autarquias locais de Setúbal, Palmela e Sesimbra, SEPNA, Autoridade/Polícia Marítima, ANPC, Clube Arrábida e representantes das associações de caçadores locais.
Recolha do lixo “tem funcionado bem”
Os oito restaurantes que funcionam no Portinho da Arrábida contam desde Abril com um novo vidrão equipado com um sensor capaz de alertar a equipa de recolha quando atinge o limite da capacidade. O equipamento foi instalado pela Amarsul e representa mais um reforço da logística de recolha de lixo naquelas praias da Arrábida, mas segundo Pedro Vieira ainda há muito a fazer.
O responsável chama a atenção para o facto de o vidro “ser o único resíduo separado pelos restaurantes e banhistas”, uma vez que existe apenas “um único ecoponto” ao pé da Casa do Gaiato, na estrada de acesso
ao Portinho. E diz também que o número de baldões do lixo é insuficiente para a quantidade de resíduos produzida pelos restaurantes e banhistas diariamente (uma vez que a meio da tarde é visível o lixo acumulado). A própria frequência de recolha e limpeza dos locais também devia aumentar, pois muitas vezes o lixo provoca maus odores em reacção com o calor.
Pedro Vieira reconhece, ainda assim, que o quadro geral da situação tem melhorado substancialmente a cada ano: “Este ano tem havido uma cobertura eficaz dos lixos. A gestão tem funcionado bem”. O Clube da Arrábida – que representa moradores, utentes, comerciantes e proprietários da zona do Portinho – foi criado em 2010 com o propósito de defender o Portinho da Arrábida em matérias como limpeza, acessos, problemas com cães e javalis selvagens, desassoreamento da praia e trânsito.