Presidente da Câmara do Seixal vai pedir explicações à concessionária do comboio e levar queixas dos utentes ao ministro das Infra-estruturas
O presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, reúne-se hoje com o conselho de administração da Fertagus para debater as condições do serviço do comboio da ponte no concelho. “Este último mês têm-se acentuado as queixas que tenho recebido por parte dos munícipes do Seixal sobre o funcionamento da Fertagus, por isso decidi pedir uma reunião com o conselho de administração da empresa”.
Paulo Silva falava aos jornalistas na estação do comboio em Corroios, depois de, ele próprio, na manhã de ontem, ter assistido e sentido o motivo das queixas dos passageiros.
Por iniciativa própria e ‘incógnito’, às 7h30 viajou entre as estações da Fertagus no concelho do Seixal (Foros de Amora, Fogueteiro e Corroios). “As pessoas viajam como sardinhas em lata”, comentava o autarca. “Viajam sem quaisquer condições. Isto não pode continuar num serviço de transportes que era reconhecido por ter alguma qualidade; agora perdeu toda a qualidade”, afirmava ao mesmo tempo que dava a saber que, depois de reunir com a administração da Fertagus, tem reunião marcada, a 31 de Janeiro, no Conselho Metropolitano de Lisboa, com o ministro das Infra-estruturas, Miguel Pinto Luz, a quem vai apresentar as queixas dos munícipes do Seixal.
Queixas com base em razões que o autarca viu in loco entre a estação dos Foros da Amora e Corroios: “Pessoas que têm de viajar de pé, tão apertadas umas contra as outras que mal se conseguem mexer, e muitas outras que têm de ficar na plataforma por não terem lugar no comboio”.
E, se ainda em Corroios são muitos os utentes que têm de ficar no apeadeiro 2 e esperar por outra composição onde consigam entrar, pior ainda acontece na estação do Pragal, concelho de Almada, e disso mesmo deu conta, a 14 de Janeiro, a presidente da Câmara de Almada, Inês de Medeiros, que se deslocou àquela estação e, publicamente, exigiu um reforço urgente do número de carruagens nos comboios da Fertagus. Para a socialista o problema só se resolve se o Governo investir em mais carruagens, uma vez que o material circulante é do Estado, e a Fertagus apenas a concessionária.
O mesmo defende o comunista Paulo Silva, mas vai mais longe ao exigir que o Governo invista no sector dos transportes no concelho do Seixal, e isso vai dizer ao ministro Miguel Pinto Luz. “O modo [mau] como os munícipes do Seixal estão a ser servidos pelos transportes públicos obriga, sem dúvida, a um grande investimento por parte do Governo”. Um investimento que tem de passar pela “melhoria significativa do transporte fluvial” e também pela “urgente expansão do Metro Sul do Tejo no concelho do Seixal”.
Diz Paulo Silva que a questão dos barcos eléctricos “foi uma aventura em que se embarcou que não foi devidamente testada e está a dar muitos problemas”. Quanto à extensão do metro até à Amora, “é um pequeno troço de 1,8 quilómetros desde a garagem [construída entre Corroios e Amora] até à estação de Foros de Amora, e iria servir mais de 50 mil pessoas do Seixal”.
Aliás, a questão da extensão do Metro Sul do Tejo não se deverá ficar pelo Seixal, mas chegar a outros concelhos como é o caso do território vizinho do Barreiro. Assim, na próxima quinta-feira, diz Paulo Silva que vai estar com o seu congénere do Barreiro, Frederico Rosa, para “discutirmos a questão da expansão do Metro Sul do Tejo, e termos uma posição conjunta sobre a mesma a expansão”, e acrescenta que também outros presidentes de câmara do Distrito de Setúbal “vão reivindicar a melhoria do transporte público de passageiros”.
Entretanto, na passada semana, os deputados do PS e do PCP denunciaram a “degradação do serviço da Fertagus” devido à insuficiência de material circulante, após o reforço das ligações ferroviárias entre Setúbal e Lisboa e o prolongamento da concessão até 2031.
Comboios chegam e seguem enquanto utentes são ‘esquecidos’ nas estações
As queixas dos passageiros da Fertagus começaram a avolumar-se em Dezembro do ano passado quando os horários dos comboios passaram a ser de 20 em 20 minutos entre Setúbal e Lisboa, e vice-versa, em vez de 60 em 60 minutos (fora da hora de ponta). O que aconteceu é que a frequência de composições aumentou, mas muitas passaram de oito carruagens para quatro carruagens e, com isto, os passageiros ficam nos apeadeiros.
Um dos exemplos foi ontem de manhã, em Corroios. Com frequência, ouvia-se através dos altifalantes da estação que os comboios estavam atrasados e, por vezes, não era dito quantos minutos, mas sim quando for possível. Foi o que aconteceu com o comboio das 9h24. Já com muitos passageiros no apeadeiro 2 para seguirem para Lisboa, quando chegou o comboio era de quatro carruagens, e muitos e muitos tiveram de ficar à espera de outro comboio.
Minutos antes, Amélia Mira, residente em Corroios, desistiu de esperar pelo comboio e optou por apanhar o Metro Sul do Tejo para Cacilhas para daí seguir para Lisboa, através do transporte fluvial.
“Ultimamente tem sido o caos. Hoje vou desistir, porque na plataforma quase não se entra. Vou apanhar o metro e procurar chegar a Lisboa usando os barcos de Cacilhas”, disse, adiantando que chegou à estação às 08h50 e “foi impossível entrar no comboio”.