O presidente da Câmara de Palmela defende “um programa nacional” que englobe a construção de mais equipamentos
A realidade conhecida “é dura”. Mas tem estado “adormecida”. A pandemia veio colocá-la “mais a nu”, diz Álvaro Balseiro Amaro, que alerta para a necessidade de o Governo “pensar numa rede pública de lares”. Mas não só. É preciso investir mais no apoio à rede solidária, financiar lares licenciáveis, criar equipas de apoio médico e dar formação a funcionários.
O que o presidente da Câmara Municipal de Palmela defende é “um programa nacional com uma rede de lares”. Mas também “um investimento que ajude a ampliar a resposta da rede das Instituições Particulares de Solidariedade Social [IPSS]”, como também a criação de um mecanismo de financiamento – “tal como se faz no Portugal 2020 para empresas de outros sectores”, lembra – que permita investir nos lares licenciáveis que precisam de melhorias. “A par disto, equipas pluridisciplinares que dêem apoio médico aos lares e formação para os funcionários destes equipamentos, porque este é o sector que está a revelar mais debilidades”, considera o autarca.
A construção de mais lares é cada vez mais indispensável. “São necessários muitos mais equipamentos [públicos]”, reforça. “O Estado ao longo de todos estes anos da nossa democracia tem-se desresponsabilizado desta rede. Muita gente tem sobrevivido com a resposta das Misericórdias, da rede social e solidária das IPSS. E também com as respostas do privado, parte delas sem condições. Mas isso não chega”, atira o presidente da autarquia.
Um cenário, vinca o edil, que não é novo. “Toda a gente conhecia esta realidade, que estava um bocadinho adormecida. Se queremos proteger os nossos pais, os nossos avós, que têm de estar nestes equipamentos por doença, acompanhamento ou cuidados continuados, temos de ter as respostas com todas as condições”, defende.
“Delegados de Saúde são insuficientes”
O alerta de Álvaro Amaro surge numa fase da pandemia em que “as preocupações continuam a centrar-se nos lares”. Equipamentos que “são de facto um autêntico barril de pólvora”. Os casos positivos de Covid-19 detectados nos lares “têm muito a ver com os funcionários, que entram e saem, que têm também a sua vida fora dos equipamentos”, lembra.
Por isso, o autarca defende também que, nesta fase, “as visitas de monitorização” que estão a ser feitas aos lares “sejam mais intensificadas até Outubro”. E que “todos os funcionários destes e dos serviços de apoio aos idosos voltem a ser testados em escala”. Até porque, sublinha, “é aí que têm acontecido alguns surtos preocupantes”. Álvaro Amaro deixa até um exemplo recente: “Só num lar não licenciado, aqui no concelho, apareceram logo 15 casos. Há duas ou três semanas. Depois de termos tido uma média de quatro, cinco, casos, de repente voltámos às duas dezenas.”
A pandemia também veio ainda vincar uma outra necessidade – a de “reforçar o número de responsáveis de saúde pública em cada um dos concelhos”, observa. E, a concluir, dispara: “Os delegados de saúde pública são insuficientes para acompanhar todas as situações, quando são eles que terão de decidir em caso de haver algum surto. Sinto que estão a trabalhar até à exaustão e que são insuficientes para aparecer, para apoiar decisões que têm de ser tomadas em tempo útil. Os profissionais são poucos. Tem de haver uma forte aposta do Ministério da Saúde. Tem de haver mais delegados de Saúde.”
Município dá exemplo à tutela e testa pessoal das escolas
Paralelamente, o presidente da Câmara deixa ainda alguns reparos à tutela face à abertura do ano lectivo, que está aí à porta.
“Teria sido desejável que, em particular, os profissionais, docentes e não docentes, pudessem ter tido a oportunidade de fazer testes de despistagem antes do início das aulas. Isso, a par de outras medidas que estão (e bem) a ser tomadas em cada uma das escolas, seria tranquilizador para as famílias”, afirma Álvaro Amaro, num recado claro ao Ministério da Educação. E no concelho de Palmela, o município fez como o autarca defende. “As auxiliares das escolas que são do município, por exemplo, vão fazer novos testes de despistagem antes de dia 14. Estamos a dar um exemplo. Entendemos avançar mais uma vez [para a testagem]. Já o tínhamos feito na abertura do pré-escolar e vamos voltar a fazê-lo”, rematou.