Pedro Pina, vereador na Câmara de Setúbal, e Francisco Jesus, presidente da autarquia de Sesimbra, põem o dedo na ferida
A Urgência Pediátrica do Hospital de São Bernardo fechou portas às 9 horas da manhã de ontem e vai manter-se encerrada até à próxima segunda-feira, 12, devido à falta de médicos. A situação é considerada “inadmissível” e “extremamente preocupante” pelas gestões camarárias de Setúbal, Palmela e Sesimbra que ontem, apurou O SETUBALENSE, desdobraram-se em contactos para tomarem um posição conjunta – os três municípios compõem o Fórum Intermunicipal da Saúde.
De acordo com Pedro Pina, vereador na Câmara Municipal de Setúbal, a situação “levanta enormes preocupações e representa um problema estrutural gravíssimo”.
O cenário advém de “diversos constrangimentos” que têm ocorrido “em outros serviços de urgência”, levando agora a que quem se dirija à unidade – que integra o Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) com o Hospital Ortopédico Sant’Iago do Outão –, para ser atendido em urgência pediátrica, “não tenha essa resposta”.
Os últimos constrangimentos de serviços levaram a Câmara de Setúbal a pedir, na passada semana, uma reunião ao Conselho de Administração do CHS, que, segundo a autarquia, já está marcada para esta sexta-feira. Segundo Pedro Pina, o encontro visa “obter informações e perceber as preocupações da população”. “O que queremos é falar com a direcção do hospital, que tem, com certeza, disponibilidade e vontade de estar na linha da frente para fazer tudo o que for possível para que se possa restabelecer a normalidade e acautelar cenários similares no futuro”, explicou a O SETUBALENSE.
Para o autarca, esta “ausência de recursos humanos, nomeadamente de médicos, evidencia um problema estrutural que a autarquia de Setúbal, assim como os municípios de Palmela e de Sesimbra, tem vindo a colocar em cima da mesa”.
A par desta situação, o vereador que detém o pelouro da Saúde sublinha “um outro problema” que contribui para a actual conjuntura. “Há mais de seis anos que aguardamos pelo arranque das obras de ampliação do CHS, as quais representam um elemento muito importante para conseguir fixar recursos humanos”, lembrou, assumindo, de seguida, que “aquilo que a Área Metropolitana de Lisboa está hoje a sofrer na área da saúde deve-se ao profundo desinvestimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”.
Francisco Jesus inconformado com estado da saúde na região
A posição do autarca de Setúbal é sustentada também por Francisco Jesus, presidente da Câmara de Sesimbra, que não esconde inconformismo pelo estado a que a saúde chegou na região. “[O fecho da urgência pediátrica] É inadmissível. São questões identificadas há vários anos, motivaram diversas reuniões com a administração hospitalar e o Governo, e mais uma vez o desinvestimento no SNS leva-nos a uma situação destas”, disse a O SETUBALENSE.
“Olhamos para o futuro, médio e longo prazo, e continuamos a ver que não há investimento. As instalações estão degradadas, a valorização e atractividade de profissionais de saúde continuam por conseguir… Infelizmente, o que temos pela frente não será melhor, a não ser que o Governo adopte políticas que invertam a situação”, lamentou.
O SETUBALENSE tentou ainda ouvir Álvaro Amaro, mas até ao fecho desta edição não foi possível obter a reacção do presidente da Câmara de Palmela.
A administração do hospital escusou-se a prestar quaisquer esclarecimentos e Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo não respondeu a contacto telefónico nem às questões enviadas por e-mail.