‘Mosquitos por cordas’ entre gestão PS e oposição

‘Mosquitos por cordas’ entre gestão PS e oposição

‘Mosquitos por cordas’ entre gestão PS e oposição

Executivo vive em clima de guerrilha verbal constante. Acusações mútuas acentuam feridas antigas. Divisão entre autarcas parece ser insanável

 

A maioria absoluta reconquistada pelo PS no Montijo há pouco mais de um ano nas autárquicas não veio acompanhada de um cachimbo de paz. Ou se veio, ninguém o fumou. O clima de guerrilha verbal, com troca de acusações, voltou a marcar mais um (longo) período antes da ordem do dia da reunião pública do executivo camarário, na última quarta-feira, saltando à vista de todos a existência de uma fractura aparentemente insanável entre a gestão socialista, personificada na presidência de Nuno Canta, e a oposição (CDU e PSD). As feridas continuam em aberto, vêm do mandato anterior e não sararam.

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Os socialistas acusam a oposição de má-fé e de ataques pessoais à figura do presidente; vereadores de CDU e PSD/CDS-PP dizem-se vítimas de totalitarismo presidencial e lembram tempos de fascismo e Salazar.

O apoio financeiro atribuído pela Câmara Municipal, na ordem dos 48 mil euros, à Tertúlia Tauromáquica – verba destinada à organização de largadas de toiros durante as Festas Populares de S. Pedro – acendeu, desta vez, o rastilho de uma discussão (mais uma) que teve… “mosquitos por cordas”.

O vereador João Afonso (PSD/CDS-PP) questionou a legalidade do acto, face à inexistência de actividade da referida associação na administração fiscal. “Quero ter a certeza absoluta de que aquilo que estou a aprovar na câmara não está ferido de legalidade”, disse, ao mesmo tempo que defendeu que a tertúlia deve prestar contas à autarquia sobre o uso dos dinheiros públicos, até por uma questão de transparência.

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Discussão feia até meteu o Topo Gigio

 

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“Não temos de nos meter na facturação das colectividades. A autonomia destas é, para mim, um princípio sagrado. Garantimos a transparência do uso de dinheiros públicos”, afirmou Nuno Canta, adiantando: “Estamos reduzidos a uma prática pouco saudável de a oposição perder muito tempo a levantar suspeições no período antes da ordem do dia, para depois discutir o que interessa, as propostas, a correr.”

O socialista acusou depois o autarca eleito pela coligação PSD/CDS-PP de estar a discutir o assunto “de má-fé e com reserva mental”. “Trabalhamos com as colectividades na base da confiança, da boa-fé e transparência. O senhor [vereador] queria trabalhar numa base de desconfiança”, atirou.

“Pedir as contas do uso de dinheiros públicos não é actuar de má-fé ou com desconfiança, tem a ver com transparência. O senhor [presidente] vive noutro mundo”, respondeu João Afonso.

“Estamos fartos de lhe dizer para se conter e o vereador não se contém”, observou de seguida Nuno Canta, com o social-democrata a retorquir: “Dito isso por quem já arremessou um jarro [a um ex-deputado municipal do PSD].”

A exaltação subiu de tom quando Carlos Jorge de Almeida iniciou a sua intervenção. “O senhor [presidente] deu-me o uso da palavra e retira-me o uso da palavra. Não o pode fazer sempre que lhe apetece. Não sou um boneco, o Top Gigio”, lamentou o comunista, acrescentando: “Pensei que íamos ter uma reunião calma, mas isto está a degradar-se. O senhor faz violentos ataques pessoais em todas as reuniões, com laivos de totalitarismo.”

O vereador da CDU viria ainda a falar em “fascismo” e em comportamentos “salazarentos”, quando se debruçou sobre a acção do presidente da autarquia. E Nuno Canta contra-atacou: “O vereador já anda a tentar criar essa imagem negativa do presidente há cinco anos, mas as pessoas do Montijo conhecem-me bem.”

“Não é a primeira vez que faz esse tipo de observações. O presidente nunca lhe chamou fascista ou salazarento e não aceito que faça isso. Nunca fizemos qualquer ataque pessoal a alguém, respeitamos as oposições, mas as oposições têm de respeitar o presidente”, concluiu Nuno Canta.

 

Nuno Canta comparado a Bolsonaro diz que oposição ‘é um mimo’

A troca de galhardetes entre autarcas voltou a acentuar-se quando Nuno Canta falou de democracia. Num ápice registou-se uma ‘viagem’ ao Brasil com ‘escala’ na ex-União Soviética e em Cuba. “A democracia também elegeu o Bolsonaro”, disparou Carlos Jorge de Almeida, com o presidente da Câmara a acusar a alfinetada e a responder ao comunista: “Vá chamar Bolsonaro a outro. A oposição é um mimo.” A vereadora socialista Maria Clara Silva também não se conteve e questionou o autarca da CDU se este queria falar dos “regimes da ex-União Soviética ou de Cuba”.

 

Apoios financeiros de € 40 mil aprovados

O executivo camarário aprovou por unanimidade, na reunião de quarta-feira, a atribuição de um apoio financeiro de 20 mil euros à Junta da União das Freguesias de Atalaia e Alto Estanqueiro-Jardia.

Do valor total, o montante de 8.500 euros destina-se a comparticipar os trabalhos de construção, equipamento e licenciamento de uma instalação de armazenamento de produtos fitofarmacêuticos. Os restantes 11 mil e 500 euros visam suportar as despesas de remodelação de dois parques infantis, concretamente a substituição do piso do parque infantil da Urbanização da Adega, na Atalaia, e a substituição de todos os brinquedos do parque infantil do Alto Estanqueiro.

Igualmente aprovado, mas apenas com os votos a favor de PS e CDU – o PSD/CDS-PP votou contra – foram dois protocolos de colaboração com o movimento associativo local, no valor global de 19 mil 750 euros. A maior fatia do bolo cabe à Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro, que vai receber 18 mil e 500 euros de apoio ao vasto conjunto de eventos culturais promovidos durante a temporada 2018/2019, assim como à Escola de Música e à construção de instalações sanitárias no pavilhão da insituição.

Já o protocolo com a Associação EEE – Batucando traduz-se num apoio financeiro de 1.250 euros para as actividades que a associação pretende desenvolver ao longo da temporada 2018/2019. Além dos apoios financeiros directos, ambos os protocolos incluem apoios não financeiros como a cedência de instalações municipais e respectivas isenções de taxas, a utilização de transportes municipais, a aquisição de troféus e o apoio à divulgação, entre outros.

O executivo aprovou ainda minutas de dois contratos interadministrativos de delegação de competências na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Um referente à atribuição de concessão da actividade de exploração da rede Municipal de Distribuição de Electricidade em Baixa Tensão (votos a favor de PS e CDU e abstenção do PSD/CDS-PP); e outro relativo aos serviços públicos de transporte rodoviário de passageiros (votos a favor de PS e CDU e um contra do PSD/CDS-PP).

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