Associação ambiental Proteger Grândola pede que a APA reverta a decisão com base nos aspectos negativos
Mais de 2300 pessoas já assinaram a petição pública contra o projecto da Mina da Lagoa Salgada, que deverá ser implementado entre os concelhos de Grândola e Alcácer do Sal. Orientado pela associação Proteger Grândola o documento tem como objectivo fazer recuar a ideia.
“A petição procura reunir vontades do maior número de cidadãos possível para mandar um sinal à Agência Portuguesa do Ambiente (APA) de que este projecto tem de ser chumbado. Não conseguimos imaginar como é que seria possível mitigar os impactos no ambiente e consideramos que não há emenda possível ao projecto. Isto não deve ir para a frente”, alerta em declarações a O SETUBALENSE Guy Villax, membro da direcção da organização ambientalista.
A petição é ainda dirigida ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), ao Turismo de Portugal e ao Ministério do Ambiente e da Energia.
Na descrição apontam 11 áreas em que, consideram, o projecto vai prejudicar a vida dos cidadãos e aumentar a “poluição e destruição do meio ambiente”. O gasto de água – que indicam ser “muito acima do que deveria existir considerando tratar-se de uma zona RH6” – é uma das principais preocupações.
“O impacto que esta mina traz é incomportável e esses assuntos vêm enumerados na petição. Esta mina vai consumir, por ano, provavelmente a mesma quantidade de água que hoje em dia as Águas do Alentejo canalizam para todo o concelho [de Grândola]. Todos sabemos que há falta de água, todos nós sabemos que as alterações climáticas vão levar a uma crescente escassez de água e o concelho de Grândola não tem disponível água que chegue para entregar a um projecto que traz tão pouca riqueza ao concelho. A riqueza vai toda para o proprietário da mina e o tratamento do minério que é extraído não vai ser trabalhado em Portugal, porque Portugal não tem essas valências”.
Até 30 de Abril o projecto esteve em consulta pública no âmbito do Estudo de Impacte Ambiental (EIA). Até agora tanto a câmara municipal de Alcácer do Sal quanto a de Grândola se mostraram contra um projecto que está cargo da Redcorp − Empreendimentos Mineiros, Lda, empresa da Ascendant Resources – comprada pela Cerrado Gold.
Este pretende fixar-se no concelho a partir da segunda metade de 2027 e, ao longo de 11 anos, focar-se na mineralização típica de zinco, cobre, chumbo, estanho, prata e ouro.
“A longo prazo os postos de trabalhos criados serão apenas uma ilusão, algo temporário, a paisagem será apenas de terra esventrada e de deposição de detritos, como acontece nas minas do Lousal e Canal Caveira. O solo e a água estarão contaminados, incapazes de produzir, incapazes de dar vida, serão apenas fonte de morte, doença, tristeza, depressão e a economia irá colapsar. A região depende da cortiça, agricultura, pecuária e turismo”, lê-se na plataforma da petição pública.
A Proteger Grândola tem esperança de que a agência que zela pelo ambiente possa reverter esta implementação com base nas necessidades do concelho. “A APA é altamente competente e irá analisar os proveitos e os benefícios que estão enumerados e vai considerar na balança os aspectos negativos. Depois vai considerar também que temos aqui um concelho que está completamente apostado na agricultura, na floresta, no turismo, no lazer e depois terá de ter a coragem de tomar a decisão certa”.