Vereador destaca impacto do evento na economia local e projecção do município além-fronteiras. Exposição de instrumentos de tortura esteve em destaque
Fotos: Francisco Machado
Cerca de 32 mil visitantes apreciaram a Feira Medieval de Palmela, que decorreu no castelo e no centro histórico da vila, no último fim-de-semana. O número é avançado por Luís Miguel Calha, vereador responsável pelos pelouros de desenvolvimento económico, turismo e mercados e feiras, que faz um balanço “extraordinariamente positivo” ao evento.
“Com esta iniciativa colocamos Palmela no centro dos melhores eventos de recriação histórica de Portugal. Os primeiros indicadores apontam no sentido de termos recebido 32 mil visitantes. Foi uma edição de grande sucesso”, resume o autarca de Palmela. “O investimento é muito inferior ao retorno que alcançamos, ao impacto que a feira tem na economia local, na visitação turística e na projecção de Palmela, não só em Portugal como também além-fronteiras, já que tivemos bastantes visitantes estrangeiros”, salienta.
A Feira Medieval de Palmela, lembra, começa a ser preparada “logo no início do ano, com a escolha do tema a recriar”. E esse, sublinha o vereador, é “um factor distintivo do certame em relação a outros eventos semelhantes que se realizam pelo País”. “É que nós recriamos sempre um episódio da nossa história medieval”, explica, ao mesmo tempo que aponta a importância de uma vertente complementar dentro desse âmbito. “Desenvolvemos também formação para a comunidade. Queremos que cada vez mais as pessoas do nosso concelho conheçam a riquíssima História de Palmela”, sustenta.
De um programa “muito qualificado”, Luís Calha prefere destacar “as novidades” apresentadas, como “o bosque das emoções e dos encantos, o torneio de petizes e a exposição de instrumentos de tortura”. E realça ainda “a adesão do comércio local ao concurso de montras” e “o envolvimento do movimento associativo”, muito importante para o objectivo da integração da comunidade num evento que, frisa, “é de todos e para todos”.
A edição deste ano, que arrancou na sexta-feira e prolongou-se até domingo, contou com o envolvimento de “200 trabalhadores do município, mais de cem voluntários e acolheu mais de uma centena de feirantes”, indica Luís Calha, a concluir.
Mostra de instrumentos de tortura foi atracção principal com 34 peças à escala real
A exposição de instrumentos de tortura da Inquisição na Idade Média, que esteve patente ao público na igreja de Santiago, no castelo, foi uma das principais atracções desta edição da feira medieval.
Até porque, constituiu-se como novidade no evento. “A exposição nasceu este ano, foi construída para o Mercado Medieval de Santarém Cortes & Lendas. Depois saiu para Belmonte e seguiu-se Palmela, mas com algumas nuances. De cada vez que é montada tem dinâmicas diferentes e elementos novos”, afirma Nair Cabral, 49 anos, presidente da direcção da Terras de Viri’ Arte, associação responsável pela mostra. “A exposição de Palmela não foi exactamente igual às outras, vamos sempre acrescentando elementos novos e há sempre coisas a mudar”, explica a responsável.
Cadeiras de pregos, chicotes, estripadores de seios, pêras de angústia, cintos de castidade, rodas de despedaçamento e tortura foram alguns dos “34 instrumentos, 19 dos quais de grande porte”, apresentados na exposição e que impressionam. “São peças que vão desde os séculos XII e XIII, sobretudo, até ao século XV. E que continuaram a ser utilizados até ao século XVI. Quem entrou na exposição saiu de lá diferente. São peças arrepiantes”, sublinha Nair Cabral.
“Foram todas construídas por nós, à escala real. Temos no grupo pessoas com várias profissões, arquitectos e engenheiros que ajudaram nos cálculos à escala real. O resto foi construção e trabalho artístico, temos pintores, actores… temos um grupo muito heterogéneo”, revela.
Em Palmela, a mostra foi complementada por “animação ao vivo com duas personagens, o carrasco e a beata, para explicar e contextualizar a exposição”.
A adesão de público “foi a esperada, teve muita gente”, observa Nair. “Há uma conclusão que as pessoas tiram no final: realmente era horrível, as práticas de tortura eram muito macabras, mas a compaixão pelo sofrimento do outro continua a não existir hoje em dia”, atira, a finalizar.