A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) negou ontem qualquer envolvimento na organização da manifestação contra as dragagens no rio Sado marcada para sábado, “por não ter tomado posição aquando da Avaliação de Impacte Ambiental”.
“É-nos incómodo tomar posição quando não nos pronunciámos sobre a Avaliação de Impacte Ambiental, tendo sido convidados para o fazer”, disse à agência Lusa Miguel Geraldes, da direcção da LPN.
“Estávamos num processo eleitoral e houve algumas coisas que, lamentavelmente, nos escaparam. Julgo que eticamente não seria correto tomar posição agora quando não o fizemos durante a discussão pública da Avaliação de Impacte Ambiental”, justificou.
Questionado sobre o facto de o nome da LPN aparecer num comunicado divulgado na segunda-feira como uma das entidades organizadoras da manifestação, a par da Associação ZERO e do Clube da Arrábida, Miguel Geraldes declarou-se convicto de que se tratou apenas de “um lapso da organização”.
O Clube da Arrábida, os grupos de cidadãos Sado de Luto e SOS Sado, as associações ambientalistas ZERO e Quercus e a cooperativa de pescadores Sesibal organizam no próximo sábado uma manifestação contra o início das obras de alargamento e aprofundamento do canal marítimo de acesso ao porto de Setúbal, que dizem ser “o maior atentado ambiental alguma vez cometido no rio Sado”.
Pedro Vieira, do Clube da Arrábida, garantiu que, numa fase inicial, a LPN disponibilizou-se para participar na manifestação.
“A LPN, numa fase inicial, apoiou a contestação às dragagens e disponibilizou-se para participar na organização da manifestação, mas, devido a uma eventual falha de comunicação interna, mudou de posição sem nos comunicar”, disse Pedro Vieira, que declinou qualquer responsabilidade no sucedido.
A manifestação terá início pelas 16:00 no jardim Luís da Fonseca, em frente às instalações do Inatel em Setúbal.
Os promotores acusam a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) de querer “transformar Setúbal num porto de águas profundas como o porto de Sines, retirando ao rio Sado 6,5 milhões de metros cúbicos de areia”.
Por outro lado, advertem que as dragagens vão colocar em risco a sobrevivência da já reduzida e protegida colónia de golfinhos roazes do Sado, bem como as pradarias marinhas que constituem um “berçário para centenas de espécies de peixes, bivalves e cefalópodes (polvos, chocos e lulas)”.
Os organizadores da manifestação alertam ainda para a possibilidade de as obras em causa poderem ter como consequência o fim do modo de vida dos pescadores artesanais do estuário do Sado e de levarem ao desaparecimento das praias da Arrábida, uma vez que as areias poderão ser progressivamente arrastadas para o canal de navegação.
Lusa