Fernando Pinto garante não estar surpreendido com grande operação. Imigrantes permanecem em pavilhões no Samouco e Montijo
No balanço da mega-operação de combate a redes criminosas associadas à captura ilícita, comércio e tráfico internacional de bivalves realizada quarta-feira, 10 pessoas foram constituídas arguidas, sendo ainda detidos três homens e identificados 249 imigrantes.
O presidente da Câmara de Alcochete diz não ter ficado surpreendido com a mega-operação de combate ao tráfico de seres humanos no concelho e defende a criação de uma `task-force´ para combater o problema. Em declarações a O SETUBALENSE/POPULAR FM, Fernando Pinto considera que “mais cedo ou mais tarde” esta operação iria acontecer.
“É a primeira vez que uma operação desta dimensão acontece. Não estranho que a mesma aconteça, porque este é um problema que tem vindo a crescer ao longo dos últimos 15 anos e naturalmente, mais tarde ou mais cedo, resultaria numa circunstância idêntica a esta que estamos a vivenciar”, ressalvou, passando a defender a criação de uma unidade de prevenção a este tipo de acontecimentos.
“Eu defendo que o Governo devia criar uma task force no sentido de envolver um conjunto grande de entidades que têm responsabilidades na matéria. Isso tarda em acontecer, o que leva a estas operações, desta feita com uma dimensão diferente daquilo que é habitual”, referiu.
O autarca relembrou ainda que não tem nada contra os mariscadores que, em muitos dos casos fazem desta actividade o seu ‘ganha-pão’, mas não esconde a preocupação no que diz respeito ao tráfico de humanos no concelho de Alcochete.
“São cometidos vários crimes, quer no ponto de vista da saúde pública, ambiental, económico, mas também me preocupa que seja no nosso país, com indícios de ilegalidade, eventualmente de tráfico de seres humanos, que isso aconteça dentro do meu concelho”, enalteceu.
Fernando Pinto garante que a autarquia está disponível para ajudar, embora considere que o município é “impotente” em recursos humanos e técnicos. “Já falei com a segurança social no sentido de estarmos articulados na eventualidade de pressão de algum auxílio e colaboração na recepção de pessoas que estejam aqui legais e que tenham de ser retiradas dos locais onde se encontram, mas a câmara é impotente no que diz respeito, quer em recursos humanos, quer recursos técnicos e pouco mais pode fazer”.
O líder da autarquia alcochetana explicou que há alguns anos a esta parte que “levanta a voz” no sentido de falar sobre esta problemática e de exigir que a problemática tenha um trabalho articulado entre várias entidades, apelando à existência de uma task force que envolva várias entidades “muito articuladas num trabalho muito em rede para que este problema possa ter um fim à vista”.
Quanto a uma avaliação desta operação, Fernando Pinto assegura que não dispõe de informação complementar que lhe permita aferir os resultados da operação, mas considera que esta é uma operação que vem no seguimento de um “problema que reside no concelho de Alcochete e noutros concelhos, há cerca de uma década e meia”.
Imigrantes sem rumo esperam por plano de realojamento
A maioria dos imigrantes identificados na operação, proveniente do sudeste asiático, passou a noite no pavilhão dos Bombeiros Voluntários do Montijo e no pavilhão desportivo do Samouco.
Ao que O SETUBALENSE conseguiu apurar, os imigrantes vão permanecer neste locais, enquanto é elaborado um plano de realojamento para estes 249 cidadãos estrangeiros.
No pavilhão gimnodesportivo do Samouco estão actualmente 54 imigrantes.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara Municipal de Alcochete, no distrito de Setúbal, explicou que a autarquia desconhecia a operação e que foram confrontados depois com a necessidade de encontrar rapidamente soluções de acolhimento, tendo sido possível disponibilizar um espaço para receber 104 pessoas.
Contudo, apenas 84 escolheram pernoitar nesse espaço e hoje já só estão 54 (homens e mulheres).
“Disponibilizámos colchões, cobertores, frigoríficos e uma refeição quente para todos”, disse o autarca, elogiando os seus serviços pela capacidade de entrega na resposta de emergência.
A situação, adiantou Fernando Pinto, está a ser acompanhada pelo Departamento de Ação Social da Câmara Municipal juntamente com o Serviço Municipal de Protecção Civil e a Segurança Social, tendo ainda estado no local um representante da embaixada da Tailândia.
“As pessoas estão a ser tratadas com dignidade dentro do que é possível fazer por parte do município”, disse, adiantando que, segundo a Segurança Social, deverão ser encontradas soluções de alojamento dentro de cinco a oito dias.
No Montijo, o pavilhão estava repleto de camas de campanha, onde estes migrantes passaram a noite, sob olhar atento de alguns elementos da Cruz Vermelha Portuguesa.
“Nós temos mais de 80 imigrantes que foram detectados pelas autoridades policiais e que foram acolhidos, temporariamente, num centro de acolhimento temporário, diria mesmo muito temporário, no Pavilhão Desportivo dos Bombeiros Voluntários do Montijo”, no distrito de Setúbal, disse Nuno Canta.
Segundo o autarca montijense, os bombeiros contribuem com o espaço e a Câmara Municipal contribui com as camas e com os hospitais de campanha de que dispõe, assim como com as refeições.
Nuno Canta salientou também que o pavilhão dos Bombeiros Voluntários do Montijo “não tem as condições adequadas para que os imigrantes ali permaneçam por muito tempo”.
“Estamos a aguardar pela intervenção da Segurança Social para que encontrem soluções para as pessoas que estão temporariamente alojadas no Pavilhão Desportivo dos Bombeiros Voluntários do Montijo”, acrescentou o autarca.
Operação culmina em mais de dois anos de investigação
No âmbito da mega-operação foram apreendidos mais de 500 comprimidos de metanfetaminas, 15 viaturas e sete motores fora-de-bordo, um empilhador, duas armas brancas, provas documentais, equipamentos de escolha e acondicionamento de bivalves e 71 mil euros.
Esta operação culmina em mais de dois anos de investigação realizada pela Unidade Central de Investigação Criminal (UCIC) da Polícia Marítima, tendo resultado na execução de mais de 30 mandados de busca, apreensão e detenção em flagrante delito no Samouco, Setúbal, Almada e Montijo.
A Polícia Marítima contou com a colaboração da Polícia de Segurança Pública (PSP), do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), do Serviço de Informação e Segurança (SIS), da Autoridade Tributária, da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e congéneres europeias, e da Europol.
Na operação, onde está incluída ainda a exploração laboral humana, estiveram empenhados no terreno 161 agentes da Polícia Marítima, acompanhados por 22 inspectores do SEF, inspectores da Autoridade Tributária e cerca de uma centena de operacionais da PSP”, referiu a Autoridade Marítima.
Com LUSA