Como responder aos problemas colocados pelo aumento da esperança de vida? Reflexão promovida por Federação Distrital do PS indica algumas respostas
Com cada vez mais pessoas a viverem cerca de 100 anos, cada vez mais jovens com formação superior a terem dificuldade em entrar no mercado de trabalho e os velhos com períodos de reforma mais longos e, provavelmente, dependentes de cuidados de saúde, como podem a sociedade e o Estado responder aos problemas associados ao aumento da esperança de vida?
Foi a estas questões que um encontro promovido pela Federação Distrital do PS de Setúbal tentou, este sábado de manhã, dar respostas ou, pelo menos, apontar algumas pistas de possíveis soluções.
A reflexão, com que a presidente da estrutura distrital socialista, Eurídice Pereira se despede destas funções neste mandato – uma vez que em Setembro serão eleitos novos dirigentes locais e regionais do partido – fez-se ao pequeno-almoço, em local e de forma pouco habitual. Cerca de sessenta militantes juntaram-se no último piso do Fórum Municipal Luísa Todi, para ouvirem conhecidos académicos sobre o tema “Desafios Intergeracionais: novas dinâmicas para longas vidas no activo”.
Paulo Pedroso, sociólogo e antigo ministro, expôs a desactualização de uma organização social pensada para quando as pessoas viviam 70 anos, para concluir que é necessário outro modelo em que as antigas três fases da vida – infância (estudo), vida adulta (trabalho) e reforma (lazer) – sejam repartidas de outra forma como, por exemplo, com um ano sabático por década ou vários ciclos desses três períodos clássicos.
Para o sociólogo, Portugal continua a colocar “a pressão do encargo com o apoio aos mais velhos sobre as mulheres, com idades superiores a 45 anos”, porque o Estado ainda não assumiu essa função. Paulo Pedroso sublinhou que o país gasta apenas 1% do PIB com cuidados continuados quando na OCDE essa média é de 2% e na Holanda atinge os 8%.
António Mendonça, Bastonário da Ordem dos Economistas, fez um diagnóstico idêntico, mas sublinhou que um dos problemas estruturais é a distribuição “assimétrica” da riqueza. O economista destacou que nas últimas seis décadas o PIB per capita “cresceu 1,3 vezes” quando a produtividade, no mesmo período, aumentou 2,4 vezes. Isto significa que o rendimento das pessoas não cresceu tanto quanto a riqueza produzida.
O bastonário defende que “precisamos de um novo modelo” de organização social e afastou as teorias mais negativas sobre a sustentabilidade da Segurança Social. “O problema é o modelo e não tanto o envelhecimento da população”, disse, confiante de que é possível encontrar “novos mecanismos de financiamento” do Estado social.
Já Paulo Marques, Coordenador do Observatório do Emprego Jovem do ISCTE, alertou que o modelo actual não está a conseguir satisfazer os jovens profissionalmente, nem em termos salariarias nem quanto à realização pessoal. O académico barreirense destacou que 15% dos jovens com formação superior trabalham em funções em que a maioria das pessoas não tem essa formação superior.
“Precisamos de políticas públicas muito mais ambiciosas, capazes de transformar a estrutura económica” e também de “políticas de regulação do mercado de habitação”, defende Paulo Marques, para quem não chega a aposta na redução de impostos.
Além destes, foram oradores também João Botelho, co-director executivo do Centro de Investigação Interdisciplinar Egas Moniz, João Mouro, da equipa do Enhanced Learning Office (ELO) na Nova School of Business and Economics (SBE), que trabalha com a aplicação da inteligência artificial na educação, Jorge Malheiros, professor e investigador do IGOT da Universidade de Lisboa, e Sérgio Cintra, gestor e autarca, que já exerceu administração em áreas de empreendedorismo e economia social.
Entre os muitos presentes estiveram vários ex-governantes, como Ana Catarina Mendes, António Mendonça Mendes e João Costa, diversos autarcas, como os presidentes das câmaras de Almada, Inês de Medeiros, e do Barreiro, Frederico Rosa, e vereadores como Vítor Ferreira e Patrícia Paz (Setúbal) ou Clarisse Campos (Alcácer do Sal), assim como outros socialistas como Teresa Almeida, presidente da CCDR-LVT, o administrador dos portos de Setúbal e Lisboa, António Caracol, ou o líder da UGT Setúbal, Manuel Fernandes. Entre os ausentes, destaca-se André Pinotes Batista por ser o único nome que já anunciou a candidatura ao cargo de presidente da Federação de Setúbal.